[MÚSICA] [MÚSICA] O mecanismo mais antigo que nós temos de combate aos vírus é a imunização. Imunização é processo pelo qual o nosso sistema imune desenvolve uma resposta que nos proteje contra organismo como é o caso dos vírus. Existem vários componentes da resposta imune, mas aqui nessa aula a gente vai focar na proteção feita pelos anticorpos e simplificar bastante esse processo para poder ilustrar como a maior parte das vacinas funcionam. Quando vírus entra pela primeira vez contato com o hospedeiro que nunca tinha sido exposto a ele, ele encontra organismo que não consegue, muitas vezes, responder a tempo e pode desenvolver a doença que nós conhecemos. Quando a gente pega o vírus do Sarampo pela primeira vez, alguns dias esse vírus consegue replicar no nosso corpo, tomar conta dele e nós desenvolvemos os sintomas, como é o caso da febre, da tosse e aquelas machas vermelhas na pele marcantes do sarampo. Enquanto isso acontece, o nosso sistema imune está trabalhando. A gente tem células que reconhecem organismos e moléculas estranhas que entraram no nosso corpo e montam uma resposta contra eles. Uma dessas formas de proteção é a produção de proteínas que vão reconhecer e atacar esse vírus do sarampo chamadas de anticorpos. Temos vários tipos de anticorpos. Alguns que saem, por exemplo, no leite materno, outros são produzidos nas nossas mucosas e outros que circulam no sangue. No caso do vírus do sarampo, são esses anticorpos que circulam no sangue que vão reconhecer o vírus, inativar ele e sinalizar para o resto do corpo que aquele organismo precisa ser destruído. As células imunes vão conseguir agora reconhecer e atacar esse vírus além de avisar a células infectadas que ainda estão produzindo vírus se destruírem. Com isso, menos de mês, nós nos livramos do vírus do sarampo e estamos curados da doença. E mesmo depois de nos curarmos, o corpo não deixa completamente de produzir esses anticorpos contra o vírus do sarampo. Nós podemos continuar produzindo anticorpos que foram usados contra organismo por décadas ou até pela vida toda. Quando isso acontece, quando nós produzimos essas proteínas que nos protegem, dizemos que fomos imunizados. Se por algum acaso a gente for exposto de novo ao mesmo organismo, como pegar novamente o vírus do sarampo uma exposição secundária, os anticorpos que nós já temos agora vão poder reconhecer e atacar ele muito mais cedo e nós ainda produzimos mais anticorpos novos. Como essa segunda reação acontece muito mais rapidamente, alguns dias, nesse caso, o nosso corpo consegue reagir a tempo de conter a infecção e nem deixar ela começar. Por isso, nós normalmente pegamos sarampo apenas uma vez na vida. Depois desse primeiro encontro, o corpo já está preparado para reagir a tempo do próximo contato e não desenvolvemos a doença novamente. E este é o mesmo princípio da vacina. Se expor de uma forma controlada a agente infeccioso, que causa uma doença, para dar tempo do corpo montar essa resposta inicial sem desenvolver a doença. E depois, graças a essa imunidade, continuamos protegidos contra esse mesmo organismo. Pode parecer algo simples, mas a importância desse processo é de, literalmente, milhões de vidas, vide o caso da varíola. A varíola é uma virose que está entre as doenças que mais mataram pessoas na história da humanidade. Só no século passado, entre 1900 e 1977, a varíola matou entre 300 e 500 milhões de pessoas. Até o final do século 18, a única solução que tínhamos era tipo de imunização, a variolação, usada a mais de 3000 anos na China e no Oriente Médio. A variolação consistia raspar as feridas de pessoas doentes, deixar essa ferida secar ao sol e formar pó, como o que tá dentro desse frasco etíope que era dado para pessoas saudáveis aspirarem pelo nariz. Sem saber o que essas pessoas faziam ao colocar os restos de ferida no sol, era destruir o vírus da varíola utilizando a radiação ultravioleta da luz do sol de maneira que quando alguém aspirava esse pó, entrava contato com o vírus da varíola inativado pela radiação ultravioleta e não desenvolvia varíola normalmente ou desenvolvia uma doença mais leve. Isso dava tempo para o nosso sistema imune enfrentar o que a gente chama do vírus inativado e desenvolver anticorpos contra o vírus da varíola. Quando a pessoa que aspirou esse pó, a pessoa variolada, encontrava o vírus da varíola normalmente, os anticorpos produzidos pelo corpo agora davam conta de conter o vírus antes da doença desenvolver aqueles sintomas debilitantes que matavam. Isso nem sempre funcionava. A exposição ao sol podia não ser suficiente para inativar o vírus e muitas vezes alguém no processo da variolação podia desenvolver a varíola normalmente, tanto que a doença continuou matando muita gente pelo mundo todo, apesar do processo. Quem resolveu boa parte desse problema foi o médico Edward Jenner. Por volta de 1780, já se sabiam que ordenhadeiras não tinham o rosto marcado pela varíola e o Jenner viu que as vacas tinham uma forma de varíola, a varíola bovina, que passava para as mãos das ordenhadeiras. Elas desenvolviam sintoma muito mais leves, com pequenas feridas nas mãos, mas nunca tinham uma varíola normal. 1796, ele deu o próximo passo lógico, que hoje a gente não consideraria muito ético, e raspou as feridas de uma ordenhadeira com varíola bovina e inoculou essa raspa menino de oito anos. Depois de algumas semanas, ele tentou variolar o garoto e também expôs ele à varíola normal e o menino não desenvolveu nenhum sintoma da varíola. Da palavra vaca, o Jenner cunhou o termo Vaccinia, que acabou virando vacina. E sem saber, ele estava desenvolvendo o primeiro princípio de vacinação que é o uso de vírus atenuado, ou seja, contato proposital com o vírus que não causa a doença que queremos combater e com isso ajuda o nosso sistema imune a montar uma imunidade protetora contra o vírus perigoso. O Louis Pasteur adotou o termo vacinação, inclusive, quando cultivou o vírus da raiva coelhos para desenvolver o vírus atenuado que foi usado na vacina antirábica, que é vírus adaptado para infectar coelhos e que nos infecta tão mal que dá tempo do nosso corpo montar uma resposta imune contra ele e nos proteger tanto do vírus da raiva do coelho, quanto do vírus da raiva que nos é perigoso. E foi graças a essa técnica que começamos uma companha de imunização contra a varíola 1967, que foi esforço coordenado mundialmente de vacinação que aqui no Brasil conseguiu extinguir a varíola 1971. O último caso natural de varíola no mundo aconteceu na Somália 1977 e 1980 ela foi dada como erradicada pela Organização Mundial de Saúde e foi a primeira doença que nós propositalmente extinguimos do mundo graças ao uso das vacinas. Até hoje ainda usamos a estratégia de imunização com vírus atenuados e algumas vacinas, como é o caso de uma das vacinas da pólio, também passamos a utilizar vírus inativados, ou seja, vírus destruídos como é o caso da vacina da gripe anual. E mais recentemente, começaram a ser desenvolvidas que usam só uma das partes do vírus para poder provocar a imunização, como é o caso da vacina contra o HPV. Todos os casos, a vantagem que a gente tem é que a vacina é barata, desenvolvimento relativamente rápido e protege as pessoas por décadas. Para se ter uma noção da proteção que isso pode promover, a vacina contra a febre amarela nos protege de uma doença muito séria e seria ótimo que tivéssemos vacinas que nos protegessem contra todos os outros arbovírus que veremos no curso, como dengue, zika e chinkungunya. O problema é que cada uma delas envolvem desafio diferente para imunização que nós veremos ao longo do curso. [MÚSICA] [MÚSICA]