[MÚSICA] [MÚSICA] E existe a transgenia. O que é a transgenia? É a modificação gênica de uma população de mosquitos e que ela pode ter diferentes produtos. Então, agora, o mosquito vira produto biotecnológico, a gente pode dizer assim. Porque você pode falar assim: "Eu quero fazer macho estéril". Então, como é que eu vou fazer macho estéril de mosquito? Então, é óbvio que você tem que saber expressão gênica, regulação, toda a parte para você construir gen e fazer com que esse macho fique estéril. Então, já existe essa tecnologia. Existe macho que mata a prole. É outro produto. O resultado é o mesmo. Se você liberar esses dois machos, você vai matar mosquito. Então, você pode pensar a maior loucura que você pensou: "Quero fazer mosquito sem asa", você consegue fazer mosquito sem asa. Você: "Quero fazer mosquito...". Sei lá, as pessoas falam assim para mim: "[INCOMPREENSÍVEL], tem como fazer mosquito que não come sangue?". É a mesma coisa que você... Até poderia, teoricamente, só que vai ser muito difícil você controlar todos os genes que fazem com que o mosquito coma sangue. Não adianta você nocautear gen, você eliminar gen. Você não vai conseguir, fazer mosquito que não tenha proboste, que é onde ele pica. É muito difícil, porque não é alvo, são múltiplos alvos, então é óbvio que hoje a gente não teria condições de fazer isso, mas existe gente estudando para ver essas vias todas. Quanto mais a gente entende de biologia básica, ciência básica do mosquito, mais a gente aplica a ciência básica. Então, a gente consegue gerar esses produtos com mais facilidade. E existe uma outra história, que é a introdução gênica. E por quê que existe a introdução gênica? Na verdade, não é "por quê que existe a introdução gênica". Olhando o problema. Então, agora a gente tem que olhar o problema. Qual é o problema? O problema é Dengue, o problema é Zika, o problema é mosquito. Então, se você controla a população de mosquito, se você erradica, zerou, matamos todos os mosquitos do mundo. Você elimina toda a transmissão associada àquele mosquito. Aí as pessoas falam: " mas vai entrar mosquito pior". Não. Não é que vai entrar mosquito pior, já existem as outras espécies que também transmitem. Então, se você elimina essa, não é que essa cresce, só aparece essa. Esse mosquito não invade o espaço do outro. Por que? Porque ele já mora junto e cada tem o seu espaço. Então, quando a gente fala de Aedes aegypti, Aedes albopictus, que são os irmãozinhos. O Aedes aegypti mora dentro da casa, o Aedes albopictus mora no jardim. Se você tirar o mosquito de dentro da casa, o outro não vai entrar na casa. Você não vai convidar o outro a entrar na casa. Ele vai entrar se ele quiser. Não é a gente que faz ele entrar, ele que se adapta ao humano. O mosquito que se adaptou ao humano. Então, com isso, cada tem o seu nicho ecológico. Eles não vão mudar o comportameto porque o outro foi embora, porque eles já vivem junto. Se a gente pensar três mosquito: Aedes aegypti, Aedes albopictus e Culex quinquefasciatus, que é esse noturno que vem zumbindo a orelha da gente. Os três moram juntos. Os três convivem juntos e se você eliminar não vai afetar o outro. " então agora eu vou entrar na casa, porque o Aedes aegypti foi embora, então a casa está vazia, eu vou invadir". Não. Não funciona dessa maneira. O que vai acontecer é aquela população aparece e a doença que aquela nova espécie transmite também vai aparecer. Então, caso típico do Brasil. Nos anos 50, a nossa erradicação de Aedes aegypti era a febre amarela. Ninguém falava dengue, só que já tinha caso clínico de dengue. Existem os casos relatados de dengue. Só que febre amarela e dengue, qual é a doença grave? Febre amarela. Então, a campanha foi contra a febre amarela, não foi contra a dengue. A dengue era uma bobagem na época. Conseguimos fazer toda a campanha da febre amarela, teve a erradicação do mosquito, teve a reintrodução do mosquito e aí quem apareceu? A dengue. Por que? Porque a febre amarela já não estava mais circulação como estava anteriormente. Acabou entrando a dengue. Da mesma maneira que agora entrou chikungunya, entrou zika, a febre amarela ressurgiu. Está no ciclo silvestre? Está, mas ela está aí. Ela está presente. Então, se a gente controla mosquito, você controla todas as doenças transmitidas por aquele mosquito. Então, é dessa maneira que a gente vê. Erradica a doença? Não. Porque você pode cair buraco que é muito mosquito e poucos infectados, que é a situação que a gente tem hoje, poucos mosquitos e muitos infectados, que é a situação que tem Singapura hoje. Então, o problema é maior. Então, contribuição de mosquitos transgênicos. Vamos eliminar o vírus, então é introdução gênica. Então, ao invés agora de você construir mosquito que mata a população de mosquito, você vai construir mosquito que não transmite mais a doença. E você modifica a população de mosquitos. E como você usa, teoria, então isso é tudo teoria, mecanismo de introdução gênica que dá vantagem ao mosquito que tem a transgenia, você espalha a população muito rápido. Então, existem estudos reais, por exemplo, do elemento P de drosófila, que era elemento de transposição, que dez anos todas as drosófilas do mundo ficaram com elemento P. Isso não foi provocado pelo homem. Quando se descobriu o elemento P, foi verificado drosófilas do mundo inteiro, descobriu que algumas não tinham, outras tinham e de repente, depois de dez anos, todas elas têm. Então, você sabe que isso é mecanismo de introdução gênica natural. Uma modificação gênica. Então, baseado nesse tipo de estudo é que teve o pensamento de se criar mosquitos que possam ter esse mesmo tipo de informação e modificação. Então, hoje, existem vários grupos no mundo que estudam genes que possam interferir na transmissão de doenças, não só como dengue, como malária. Então, no caso de transgênico, a maior pesquisa é torno de malária. Muito mais do que vírus, dengue, zika e chikungunya, mas existem algumas informações para esse tipo de projeto. E a ideia é que aí você consegue liberar esses mosquitos e esses mosquitos vão modificar a população e com isso você bloqueia a transmissão de doença. Não é mais acabar a população de mosquito, porque quando a gente fala acabar a população de mosquito, você tem que acabar a do mundo inteiro. Se acaba no Brasil, vai ser muito difícil você eliminar do Brasil. Você consegue eliminar de ilhas ou municípios, alguns municípios, mas se você não fizer barreira, bloqueio, se você não continuar fazendo o tratamento como é feito hoje com o programa da mosca da fruta nos Estados Unidos, você não consegue segurar a reintrodução. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]