[MÚSICA] [MÚSICA] A família Flaviviridae tem o nome de Flavi, que é amarelo Latin, justamente, porque é a família do primeiro arbovírus conhecido, que é o vírus da Febre Amarela. E dentro dessa mesma família, também temos outros vírus causadores de doenças; como é o caso do vírus da Hepatite C e vírus que infectam outros mamíferos, e até vírus que infectam insetos. Mas de todos eles, nós vamos focar, aqui no curso, no gênero Flavivírus, que é o gênero dos vírus transmitidos por artropodes, próximos de Dengue, Zika e Febre Amarela. Os Flavivírus que nós conhecemos podem ser divididos, a grosso modo, de acordo com o tipo de hospedeiro e, inclusive, o tipo de vetor que permite a circulação deles. Nós temos, por exemplo, os Flavivírus transmitidos por carrapatos, que são mais comuns na Europa, como é o caso da encefalite do carrapato. Também temos os Flavivírus transmitidos por mosquitos que infectam, principalmente, aves e mamíferos, como é o caso da Dengue e da Febre do Oeste do Nilo. Nesse caso, são vírus que dependem, completamente, da ecologia do hospedeiro. Então por isso, eles são vírus que têm ciclos anuais, já que os mosquitos aí dependem do ciclo de chuva, do clima, da temperatura, de onde estiverem circulando para poderem por os ovos e terem a reprodução que nós vamos ver ao longo do curso. E nós temos Flavivírus para os quais não conhecemos ou, aparentemente, não existe vetores; que são Flavivírus transmitidos, diretamente, entre os animais e que estão associados, principalmente, a roedores e morcegos. Com alguns casos registrados humanos, com alguns casos humanos conhecidos. Como é o caso do vírus Rio Bravo, que infecta morcegos no México. E, também, temos alguns Flavivírus que são exclusivos de insetos e não parecem infectar nem mamíferos, nem aves. Os Flavivírus que nos interessam nesse curso são aqueles Flavivírus transmitidos por mosquitos. Claro! E entre eles, ainda podemos falar dois grandes grupos. Desses grupos é o grupo associado ao vírus da encefalite japonesa, que foi dos primeiros conhecidos. É o caso dos vírus como o vírus da Febre do Oeste do Nilo; que circulam mais entre as aves, são mais transmitidos por mosquitos do tipo Culex- não aedes que a gente falou até aqui- e como o nome diz, tendem a causar uma infecção mais neurológica e encefalite. [SEM ÁUDIO] Já os Flavivírus com os quais nós temos mais familiaridade e estamos explorando aqui no curso, são os Flavivírus mais próximos da Febre Amarela. Como é o caso da Dengue e do Zika, que são vírus que infectam mais mamíferos- como os macacos- e são mais transmitidos por mosquitos do gênero Aedes. Que também tendem a infectar mais as células do sistema imune e ficam mais restritos ao sistema circulatório. Então não é tão comum, entre eles, causar encefalite. [SEM ÁUDIO] Dentro do grupo da encefalite japonesa, que são vírus transmitidos principalmente pelo Culex, o vírus da encefalite japonesa é o que causa o maior número de casos no mundo, com dezenas de milhares de casos, principalmente na Ásia, todos os anos. Desses casos, por volta de quarto dos infectados acaba morrendo por causa do vírus. E mesmo entre os sobreviventes, a encefalite pode deixar sequelas graves; entre 20 por cento e 30 por cento dos sobreviventes desenvolvem paralisia, epilepsia e até a perda da fala. Mas apesar desse número alto de casos e de fatalidades, a encefalite japonesa tem vacina. Os casos que ainda acontecem no mundo se dão, muito mais, pela falta de distribuição da vacina do que pela falta de uma solução clara e eficaz. E na maioria, apesar da encefalite japonesa, na maioria, os vírus desse grupo são vírus que não circulam tanto entre humanos. Aqui no Brasil, o Flavivírus mais próximo da encefalite japonesa, que também causa encefalites graves, é o vírus Rócio, que foi descoberto na década de 1970, no Vale do Ribeira e na Baixada Santista. Esse vírus causou epidemias de Meningoencefalite de 1973 a 1990, na região sudeste do Brasil. Foram mais de mil casos com cerca de cem mortes e quase duzentos, dos sobreviventes, sofreram sequelas. O vírus Rócio é transmitido por mosquitos silvestres e, ao que parece, mosquitos Aedes também. E os hospedeiros naturais parecem ser as aves silvestres, mas ele é vírus que também foi detectado cavalos por todo o país. Nós não temos ainda uma noção clara do ciclo do Rócio, o que pode ser problema, já que sem saber qual é o seu hospedeiro e como que esse ciclo acontece. Nós não temos como saber o que leva o vírus a reemergir por aqui. Já no grupo da Febre Amarela, além do Zika e da Dengue que nós vimos aqui no curso, também acontecem outros vírus que causam casos humanos e são transmitidos por mosquitos Aedes. O fato deles serem transmitidos pelo o Aedes é o que nos preocupa aqui no curso, e aqui no Brasil, porque, afinal, enquanto tivermos os mosquitos presentes, temos chances de, inclusive, esses outros vírus seguirem o mesmo caminho da Dengue e aparecerem por aqui. A maior parte desses vírus são vírus encontrados na África e alguns na Ásia. Deles é o vírus de Wesselsbron, descoberto na África do Sul, que infecta vários tipos de mamíferos; como é o caso das ovelhas por lá e, ocasionalmente, salta para humanos. Outro vírus preocupante é o vírus Spondweni descoberto 1952, na Nigéria, que é o vírus mais próximo do Zika. Tanto que, inclusive, deve circular entre primatas não humanos, na mesma região, e quando nos infecta, causa sintomas parecidos com os da Zika; como a febre, dor de cabeça, dor no corpo, enjoo e dores nas juntas, ao ponto que, inclusive, ele é confundido com Zika aonde circula. Ainda temos outros Flavivírus próximos desse grupo da Febre Amarela, do Zika e da Dengue, que não causaram epidemias, mas que nós sabemos que podem nos infectar, porque, inclusive, foram detectados já humanos. Como é o caso do vírus Banzi, o vírus Edge Hill e o Sepik. Sem falar vários outros, Flavivírus próximos que isolamos de mosquitos, e até de mamíferos, mas que ainda não sabemos se tem realmente o potencial de causar casos humanos. A intenção com essa lista toda de nomes não é dizer quais são os Flavivírus que são mais preocupantes, ou que tem algum risco imediato. A gente nem sabe, inclusive, se eles podem vir a causar casos humanos. O vírus Spondweni, por exemplo, pode ser próximo do Zika, mas, até hoje, ele não se mostrou eficiente infectar e circular- mosquitos que são preocupantes- como é o caso do Aedes albopictus e do Aedes Aegypti. O que nos preocupa é que o próprio Zika era só mais desses Flavivírus isolados, que a gente mal conhecia, que circulava fora de macacos e mosquitos, com alguns casos de humanos ocasionais até 2007. O ponto é que as mesmas condições que permitiram o vírus da Dengue circular, depois permitiram que o Chikungunya circulasse, foram as condições que permitiram o Zika deixar de ser esse vírus desconhecido e passar a causar casos ao redor do mundo todo. Ou seja, de novo, enquanto ainda tivermos mosquitos Aedes circulando por aqui, nós estamos dando condições para outros vírus, como esses Flavivírus, circularem por aqui também. E como vimos nessa aula, candidatos a novas epidemias não faltam. Por isso, falaremos sobre vacinação, mas também precisamos da importância ao combate aos Aedes. 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