[MÚSICA] [MÚSICA] Aqui no Brasil, o ciclo silvestre do vírus ainda acontece entre os primatas e até animais como as preguiças, especial boa parte do interior do país, regiões como a Amazônia, o pantanal e o cerrado. Nessas regiões onde o vírus ainda circula, acontecem casos entre humanos de febre amarela, entre as pessoas não vacinadas, que geralmente são homens adultos. Nesses casos, o vírus geralmente é transmitido dos primatas para os humanos por mosquitos silvestres, como aqueles dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Esses dois gêneros ainda são vetores importantes do vírus, especial a espécie Haemagogus janthinomys, no centro-oeste e norte do país, e a espécie Haemagogus leucocelaenus, no sul e no sudeste. No caso desses mosquitos Haemagogus, também pode acontecer a transmissão transovariana. Ocasionalmente, quando as condições são favoráveis, acontecem surtos entre os primatas com vários desses casos saltando para humanos uma mesma região. Esses surtos acontecem com uma certa periodicidade, mais ou menos a cada cinco ou dez anos, o que se estima ser o tempo para renovar a população dos primatas hospedeiros, o tempo para que eles possam se reproduzir e mais animais suscetíveis se acumulem, já que os macacos também sofrem e se debilitam com a doença. Nós vamos deixar na bibliografia o artigo de Vasconcelos e colaboradores de 2010, onde ele organiza os seguintes fatores associados com essa reemergência de surtos silvestres, as condições que a gente vai listar a seguir. Exposição de pessoas suscetíveis, ou seja, aquelas pessoas que não foram vacinadas. Isso pode acontecer porque a campanha de vacinação de uma região com risco de febre amarela foi deixada de lado, ou pode acontecer por causa de visitantes vindos de regiões onde não tem risco de febre amarela que não se vacinaram antes de viajar. Também tem o aumento na densidade de vetores e hospedeiros. Para ter transmissão, o vírus depende da população dos primatas e de vetores ao redor, e por isso mesmo outro fator são as condições climáticas favoráveis, como o aumento de chuvas que ajudam os mosquitos a se multiplicarem. Os primatas da região também precisam estar infectados pela febre amarela e, como os reservatórios são os animais silvestres, eles precisam carregar o vírus que os mosquitos depois transmitem para as pessoas suscetíveis ao redor daquela região. Ou pessoas infectadas precisam trazer o vírus para aquela região e os mosquitos transmitem aquilo primeiro para os primatas ao redor. A hipótese que mais integra como todos esses fatores interagem para causar novo surto é a de que a febre amarela segue o movimento migratório de primatas e os cursos da água por onde eles se deslocam. Esses surtos tendem a começar no interior do país, onde circulam mais primatas e onde a febre amarela é mais endêmica, mas podem avançar para a costa como aconteceu no Rio Grande do Sul 2008, e como aconteceu Minas Gerais e depois no Espírito Santo, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, 2017. Quando isso acontece, repetidamente vemos a população culpar e matar os macacos nas regiões afetadas. Entre os bugios mortos no Rio Grande do Sul 2008, por exemplo, muitos morreram da doença, mas quase metade deles não estava doente e provavelmente foi morta pela população. Quanto ao que faz o vírus da febre amarela chegar nesses primatas e causar os novos surtos, a explicação parece estar entre os humanos. Isso porque quando a gente compara as linhagens de febre amarela que circulam no país, nós encontramos linhagens idênticas circulando no país todo ao mesmo tempo. De Goiás a Bahia, até a Ilha de Marajó, o que só pode acontecer através da circulação humana, já que nenhum outro primata no país tem uma dispersão tão grande, nem circula tão rapidamente a ponto do vírus continuar idêntico no caminho todo. Ou seja, são pessoas não vacinadas que vão para regiões onde a febre amarela está circulando e contraem o vírus, e acabam levando ele para os outros locais enquanto os sintomas não se manifestam, ou quando fazem tráfico de animais doentes. [MÚSICA] [MÚSICA]