[MÚSICA] [MÚSICA] De maneira grosseira, nós conseguimos dividir as doenças que saltaram recentemente para humanos alguns estágios de acordo com quão adaptadas a nós elas são. Esses estágios não são fixos, não são registrados pedra: estudos diferentes têm critérios diferentes para classificar isso, não é uma classificação oficial, mas sim auxílio que a gente vai usar aqui para entender como esse processo acontece e que mesmo assim ajuda bastante a entender como as doenças saltam para humanos. O primeiro estágio de entrada humanos é uma doença que ocorre principalmente animais e ocasionalmente, de vez quando, salta para humanos. Isso pode ser por contato direto com o animal doente ou mesmo por acidentes como cortes no caso de caçador preparando a carne, por exemplo, e mesmo assim, quando esse contato acontece, quando essa doença infecta humano, ela muito dificilmente passa para outros humanos. Então, a doença fica contida na primeira pessoa que se infectou, como é o caso, por exemplo, do vírus da raiva, quando sai de animal raivoso para alguém que foi mordido, ou do vírus da febre do oeste do Nilo e da bactéria causadora do antraz. No caso dessas doenças, nós não somos os hospedeiros delas, mas elas podem causar problemas sérios e normalmente ficam restritas ao entorno de onde tem os animais que são os hospedeiros naturais. No próximo estágio de entrada está uma doença que circula entre animais, pode infectar humanos e, quando infecta humanos, pode circular pelo menos limitadamente entre pessoas. Normalmente, uma infecção que, se acontece entre humanos, para de circular bem pouco tempo. Até esse estágio, nós temos uma doença que, por mais que nos infecte, ainda é causada por patógeno que não está bem adaptado ao nosso organismo e não consegue se transmitir entre pessoas, nem causar surto que se sustente independente do hospedeiro original, o que não quer dizer que é uma doença sem consequência para as pessoas. Por exemplo, o vírus Marburg é desses. Ele, ocasionalmente, pode saltar de morcegos para humanos, circula muito pouco de humano para humano, mas, mesmo assim, a doença que causa nós é bastante séria. Também era o caso do vírus Ebola 2013, mas no surto de 2014 a gente teve muita circulação entre humanos e ele pode ter passado para o próximo estágio. No próximo estágio de entrada, a gente tem uma doença que circula entre os outros animais hospedeiros, mas que pode saltar com uma certa frequência para humanos e, quando infecta humano, pode continuar sendo transmitida e causar surtos entre humanos que não dependem mais do que era animal hospedeiro. Alguns casos, o ciclo animal ainda pode ser o mais importante, como é o caso, por exemplo, da doença de Chagas e até da febre amarela que voltou a aparecer 2017 aqui no Brasil. E outros casos de doenças, o ciclo humano pode ser o mais importante e até mais comum do que o ciclo silvestre, como acontece, por exemplo, com o vírus da Dengue e com alguns tipos de Influenza e, até mais recentemente como acontece com o Ebola e com o Zika vírus. São vírus que circulam entre os animais, mas o surto que eles causam entre humanos é bem sério, bem preocupante por isso a gente os acompanha. Já no último estágio de entrada, temos uma doença que só existe entre humanos. O patógeno original pode ter sido uma zoonose, ele pode ter começado num animal, mas essa doença já foi tão selecionada entre humanos que ela não é mais encontrada animais selvagens, como é, por exemplo, o caso do Influenza H1N1, que causa a gripe como desde pelo menos 1918 só entre humanos, como é o caso do vírus do sarampo, do HIV1, do vírus da hepatite b e da c e o caso da varíola. Muitas vezes, o ingrediente para isso acontecer, para essa adaptação ficar entre os seres humanos, é o tamanho da nossa população e por isso a gente vai ver isso agora. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]