[MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] O Chikungunya também tem o genoma de RNA positivo como é o caso dos flavivírus, mas ele pertence a outra família que é a família Togaviridae. Dentro dessa família, o seu gênero dos Alphavírus também tem vírus preocupantes por causarem doenças humanas, como é o caso do Mayaro que circula aqui na América do Sul ciclos silvestres, parecidos com os ciclos da febre amarela, ou o O'Nyong-nyong, que voltou a causar epidemias no oeste da África depois de mais de 30 anos sem dar notícias. Também tem o vírus do Rio Ross, que circula nessa região da Austrália transmitido por mosquitos Aedes, ou seja, dá para perceber que ainda temos vários motivos e vários vírus próximos para nos preocuparmos com outras doenças que podem nos visitar aqui enquanto tivermos mosquitos Aedes no Brasil. São conhecidos três genótipos de Chikungunya, ou seja, três grupos virais distintos, do oeste africano, outro leste/central/sul-africano, e outro asiático. Aqui no Brasil, temos duas dessas linhagens circulando, a linhagem asiática, que é compatível com o vírus que circulava pelo Caribe e que foi detectada aqui primeiro no Oiapoque, e a linhagem leste/central/sul africana, que é mais relacionada com o vírus que ainda circula Angola e que foi detectada primeiro aqui Feira de Santana, na Bahia. Ou seja, no mesmo ano tivemos pelo menos duas entradas diferentes do Chikungunya no Brasil, cada uma delas trazendo uma das linhagens. Isso é importante para ilustrar como, dadas as condições para o vírus poder circular por aqui, ele acaba entrando num país e se espalhando, e como não adianta a gente tentar se prender a evento de entrada viral enquanto tivermos as condições para o vírus poder circular. Além dos mosquitos que fazem parte do ciclo silvestre, a transmissão urbana do Chikungunya também é feita por mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, e o papel de cada desses mosquitos pode variar de acordo com a região. Algumas linhagens de Chikungunya tem inclusive uma mutação que é conhecida por facilitar a transmissão pelo Aedes albopictus, enquanto a linhagem que circula aqui no Brasil, ou melhor, as linhagens que circulam aqui têm aparentemente mais preferência pelo Aedes aegypti e raramente também pode acontecer a transmissão direta de mãe para filho ou filha durante o parto, com complicações que a gente ainda vai falar mais adiante. Também pode acontecer a transmissão por bolsas de sangue contaminadas, mas não é muito comum embora seja fator preocupante durante os surtos. Reunión, por exemplo, a doação de sangue precisou ser suspensa durante o pico de Chikungunya, entre janeiro e fevereiro de 2006. Nós ainda não sabemos o que permite a entrada do vírus na célula, ou seja, qual o receptor que ele usa para poder entrar, mas sabemos que o Chikungunya é capaz de se replicar muitos tipos de células, como é o caso das células epiteliais, que formam o interior dos vasos sanguíneos, as células imunitárias que circulam dentro deles, e as células endoteliais que formam a parede dos vasos, e até fibroblastos que nós vamos falar logo mais. E assim como o vírus da dengue, ele entre na célula por endocitose, ou seja, ele usa o processo da própria célula para entrar e depois aproveita a acidificação que a célula faz no endossomo para se fundir com a membrana da célula e poder invadir ela. O Chikungunya parece se replicar nos mesmos tipos de célula que os flavivírus, como é o caso dos macrófagos do sistema imunitário, mas também parece conseguir infectar células musculares, que são os fibroblastos. Regiões como nos músculos e nas articulações, já encontramos o genoma viral pacientes depois de mais de ano e meio pós a infecção, e isso ajuda a explicar esses sintomas característicos do Chikungunya, como é o caso das dores nas articulações e das dores musculares, que podem atingir até 90 por cento dos infectados na fase aguda. O diagnóstico ainda é feito tanto de forma direta, pelo isolamento e detecção do vírus nas pessoas infectadas, quanto de forma indireta que é a detecção da resposta imune contra o vírus, que é mais persistente, pode acontecer até depois da doença. Até o oitavo dia da infecção o material genético do vírus ainda é detectável por técnicas moleculares, mas depois desse período passamos a depender da detecção sorológica ou imunitária, tanto de anticorpos inespecíficos quanto específicos para o vírus, e para isso ainda dependemos, principalmente no Brasil, de laboratórios especializados distribuídos por todo o país. [MÚSICA] [MÚSICA]