[MÚSICA] [MÚSICA] Mentiras e até movimentos de ódio e protestos são comuns pandemias. Isso tem a ver com como as pessoas se identificam e o grupo que elas formam, não necessariamente com o quanto as pessoas se informam ou com a quantidade de informação disponível. E geralmente o que acontece não é que nos falta informação, mas sim que nós aplicamos modelo mental errado para poder explicar ou entender aquela situação. Por exemplo, "The Knowledge Illusion", os autores do livro entrevistaram pessoas para saber o quanto à vontade elas estavam com produtos que contêm organismos geneticamente modificados, ou OGMs, e o que eles viram é que a relação é mais aceita conforme as pessoas se distanciam do produto. Muita gente não estava à vontade para comer alguma coisa, produto que usasse organismos geneticamente modificados, enquanto mais pessoas aceitariam passar creme à base de OGMs na pele. E mais pessoas ainda aceitariam usar produto spray com OGMs. Enquanto o mais aceito seria se os OGMs fossem usados produtos para casa, como pilhas. O que indica que, na verdade, as pessoas estão tratando organismos geneticamente modificados como tratam germes, como se eles fossem capazes de contágio com o nosso corpo e, nesse caso, pouco ajuda dar mais informação para essas pessoas sobre OGMs ou quão seguro eles são, se nós não mudarmos o modelo mental que as pessoas usam para refletir sobre o problema. Nessas situações, adicionar informação sem mudar esse modelo mental aplicado não resolve o problema. Pandemias, principalmente quando não se sabe muito sobre o patógeno que está causando a infecção ou quando não tem tratamento à mão, nós passamos pelo mesmo tipo de problemas. Culpar grupo de pessoas ou fator isolado pelo surto que está acontecendo é desses modelos mentais errados que frequentemente aplicamos, mesmo sem querer. Principalmente quando não temos controle sobre o que está acontecendo ou quando os fatores que explicam problema são muito difusos e muito complexos. Esse já foi o caso surtos de cólera no passado e até no começo da descoberta da AIDS no mundo todo. E foi como nós reagimos a vários surtos de febre amarela aqui no Brasil, matando macacos, incluindo surtos recentes 2008, 2017 e 2018. Esse tipo de atitude de buscar culpados condições complexas que fogem do controle das pessoas é bastante comum, e essa atitude de apontar culpados não costuma ser difusa, ela normalmente é direcionada para certos grupos específicos, como imigrantes ou classes sociais desfavorecidas. No caso do HIV, por exemplo, principalmente durante a década de 80 e 90, portadores de HIV foram excluídos, marginalizados, e inclusive sofreram violência por serem soropositivos. Muitas vezes, os locais ou os grupos que são responsáveis por atender e socorrer os atingidos durante surto, também são justamente os atacados. Até profissionais de saúde são alvos comuns. No surto de ebola no oeste africano 2014, não só hospitais e centros de atendimento foram atacados, como médicos e jornalistas chegaram a ser mortos por causa disso. Boatos e movimentos de ódio surgem dessa aplicação de modelo errado para explicar como uma doença, uma pandemia circula. Nós tratamos minorias como responsáveis pelos novos casos, figuras de autoridades podem ser tratadas como culpadas pelo surgimento do que está acontecendo, porque tem poder acima das pessoas, e centros de atendimento podem ser acusados de espalhar a doença que estão justamente tratando. Também são comuns aparecerem tratamentos alternativos, curas populares e similares, principalmente quando não tem tratamento oficial reconhecido disponível. Então saiba esperar que condições similares, outros surtos futuros, o mesmo pode acontecer. [MÚSICA] [MÚSICA]