[MÚSICA] [MÚSICA] Outra alternativa para podermos combater uma doença causada por vírus poderiam ser medicamentos, como é o caso das infecções bacterianas para as quais nós temos uma classe de medicamentos bastante eficientes, que chamamos de antibióticos. Isso porque como as bactérias são seres vivos com células diferentes das nossas, conseguimos encontrar moléculas que afetam o crescimento delas, mas não o nosso, que são as moléculas que nós chamamos de antibióticos. O princípio por trás dos antibióticos é procurar encontrar composto que consegue afetar as células das bactérias o suficiente para dar tempo do nosso sistema imune reagir contra elas. Mas é uma resposta específica o suficiente para não fazer mal às nossas células e o nosso corpo continuar protegido, apesar de tomar medicamento. Por isso é tão difícil desenvolver medicamentos desse tipo contra tumores. O que faz tumor, que causa o câncer, são as nossas células. E é muito difícil conseguir achar composto que ataca só as células tumorais e não afeta as células saudáveis, por isso, medicamentos antitumorais podem ter efeitos colaterais tão graves; porque eles ainda podem alguma ação no resto do corpo. Já no caso de uma infecção viral, a situação pode ser bem mais complicada. Se a gente lembrar do ciclo de replicação dos vírus- e por isso que demos uma olhada nessa parte- na maior parte do tempo, os vírus estão usando as nossas células para replicar. Ou seja, grande parte do que podemos atacar no ciclo de vírus são as nossas próprias moléculas, o que pode ter efeitos colaterais bem graves. São poucos os estágios de ciclo de replicação viral onde os vírus usam só moléculas próprias que nós podemos atacar. Por isso, medicamentos que ataquem os vírus diretamente, que nós chamamos de antivirais, são tão raros. E por isso, normalmente, dependemos das vacinas para poder combater as doenças virais antes que elas aconteçam. Para poder desenvolver antivirais, nós precisamos encontrar e atacar alvos que são exclusivos dos vírus; e tem várias etapas desse ciclo viral que podem ser atacadas. Existem drogas, por exemplo, que inibem a ligação da partícula viral na célula alvo, porque conseguem bloquear esse reconhecimento do receptor pelo vírus. Como é o caso do medicamento 'Enfuvirtide', que é o inibidor que impede o HIV de fundir a sua membrana com a membrana da célula alvo. Também temos drogas que impedem o desempacotamento viral, como é o caso da Amantadina, que é uma droga anti-influenza. A replicação viral é dos estágios mais importantes para eles e é dos maiores alvos de antivirais, como boa parte dos antiretrovirais, usados contra o HIV, e o caso do Aciclovir, que é usado contra o vírus da Herpes. E também existem antivirais que impedem o empacotamento e o amadurecimento da partícula viral, como é o caso dos inibidores de protease do HIV. Desenvolver algo que afete dessa forma, especificamente, os vírus, além de difícil e caro, pode passar por outro problema. Como esses alvos tendem a ser específicos de cada vírus, antivirais, normalmente, dão uma solução que afeta só aquele tipo de vírus individualmente. A maioria dos antivirais que foram desenvolvidos, por exemplo, para combater o HIV, funcionam contra o HIV, mas só contra ele. Já os antibióticos como podem afetar as estruturas gerais das bactérias, como é o caso da parede celular, conseguem fazer efeito várias delas com o mesmo antibiótico. Por isso, muitas das vezes, os médicos não precisam nem saber qual é o tipo de bactéria que esta causando uma garganta inflamada para poder preescrever antibiótico que vai ser de uso geral. Já no caso dos vírus, a gente teria que ter diagnóstico específico daquele vírus para poder passar medicamento contra ele. Estas figuras da neuraminidase do vírus da gripe ilustram caso que acontece muito bem. Quando novas particulas do influenza brotam para fora da célula, elas continuam presas no receptor que o vírus usou para entrar. Para poder se desligar da célula de onde ele se formou, o influenza precisa dessa proteína chamada de neuraminidase, que corta fora as moléculas da célula que continuam presas no vírus. Se essa neuraminidase não funciona, o vírus influenza não consegue sair da célula de onde ele brotou e o sistema imune tem tempo para reconhecer esse vírus e atacá-lo. E nós temos duas formas de impedir a neuraminidase de funcionar. Uma delas é com a própria resposta imune, quando o nosso corpo desenvolve anticorpos que se ligam a neuraminidase e a impedem de agir. Esse tipo de anticorpo que neutraliza vírus são os anticorpos neutralizantes. E a outra forma que nós temos é usar uma molécula- como é o caso do medicamento Zanamivir, essa molécula azul- que entra dentro da neuraminidase, muda o formato dela e não a deixa mais reconhecer as moléculas da célula e liberar o vírus. Nos dois casos, os anticorpos e os antivirais, reconhecem especificamente a neuraminidase do influenza e não vão funcionar contra outros vírus que não tenham essa neuraminidase. E até o próprio influenza consegue mudar a neuraminidase através de mutações, a ponto, ou dos anticorpos, ou dos medicamentos, de deixarem de funcionar. Assim como os medicamentos e os anticorpos podem não reconhecer influenza muito diferente como é o caso do aviário. Por isso não temos antivirais contra o influenza que são distribuídos, indiscriminadamente, já que não queremos selecionar vírus que passam a resistir ao medicamento. Outro problema que enfrentamos no desenvolvimento de antivirais é a duração da infecção. Vírus como Herpes, HIV ou Hepatite C, que tem medicamentos próprios, causam infecções que são longas o suficiente para acontecer o diagnóstico do vírus certo, fazer o tratamento e acompanhar as melhoras. Mas outros casos, como é o caso do Zika e da Dengue, a infecção causada por esses vírus é muito curta. E, além disso, quando o doente manifesta os sintomas, muitas vezes, a fase principal da replicação do vírus- que é quando o medicamento seria eficiente- já passou. Outro problema é que o diagnóstico entre o tipo de vírus é bem mais complicado no caso deles, porque, às vezes, sintoma como febre se aplica a vários vírus. Então, mesmo se a gente tivesse medicamento específico, teria dificuldade para poder preescrevê-lo, ou seja, temos dificuldades nas três etapas. O diagnóstico da infecção, a infecção não é curta a tempo do medicamento fazer efeito e quando fazemos o diagnóstico, muitas vezes, é tarde demais para tratar o paciente. Nesses casos de infecções agudas de curta duração, uma forma de como tornar essa limitação seria tomar medicamento antes mesmo de se infectar. Seria o caso, por exemplo, de durante surto de Dengue, como forma de impedir que o vírus até começe a circular e infectar as pessoas, o medicamento seria distribuído. Mas, infelizmente, esse tipo de abordagem expõe o vírus a tratamento muito mais do que necessário. E isso favorece, justamente, o surgimento de linhagens virais resistentes ao tratamento. O que quer dizer que mesmo se a gente tivesse uma droga capaz de impedir a infecção e o surto, esse tipo de uso, provavelmente, não seria recomendado. Antivirais são uma forma de combate aos vírus, principalmente, nas infecções crônicas de longa duração. E casos como a infecção do HIV ou da Hepatite C, podem ser fundamentais para combater e até mesmo curar a doença. Mas na maioria das viroses, o fato de dependerem de alvos específicos de vírus, inviabiliza terapias gerais sem o diagnóstico. A ação parcial desses medicamentos pode não impedir uma infecção, de maneira que os vírus conseguem ainda desenvolver resistência e continuar circulando. E no caso das infecções agudas, a terapia pode não chegar a tempo de fazer efeito contra o vírus para aquele paciente. Por isso, as vacinas ainda são uma das abordagens mais diretas para o combate aos vírus, incluindo os vírus que estamos estudando nesse curso. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]