[MÚSICA] [MÚSICA] Uma vez que alguém é picado por uma fêmea carregando o vírus da dengue, ele cai na corrente sanguínea e tem tempo de incubação, no caso da dengue, de mais ou menos três dias a duas semanas. Depois dessa incubação vem a fase aguda da doença, que geralmente também dura entre três dias e uma semana. A maioria dos casos de dengue é assintomática ou só manifesta febre, ao ponto que muita gente nem sabe que foi infectada pela dengue. E entre os que desenvolvem sintomas, os sintomas mais comuns são dores de cabeça, dores musculares, dores nas juntas, dores nos olhos, vermelhidão no corpo e sangramentos. E cerca de cinco por cento dos infectados, se desenvolvem os sintomas mais sérios, com vômito pesado, dor abdominal intensa, inchaço do fígado, dificuldade respiratória e o pior tipo de complicação: parte dos infectados pode desenvolver a febre hemorrágica da dengue, onde acontece a perda de plaquetas e sangramentos, insuficiência circulatória e queda de pressão sanguínea e choque, o que nós chamamos de síndrome do choque. O índice de fatalidade da dengue gira torno de a cinco por cento dos casos e os valores mais baixos acontecem principalmente quando e onde o tratamento está disponível. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o curso da doença pode ser dividida três fases. A fase febril, nos primeiros dois a sete dias, com uma febre de até mais de 40 graus Celsius, náuseas e vômito, e nessa fase a maior parte dos infectados desenvolve a vermelhidão no corpo e pouco de sangramento. Seguida pode começar o período crítico, que dura de a dois dias e, normalmente, se manifesta nos casos de infecção secundária, ou seja, nos casos das pessoas que já tiveram dengue pelo menos uma vez antes. Aí pode acontecer a perda de plasma pelos vasos sanguíneos, sangramento e perda de irrigação dos órgãos, o que pode causar o mal funcionamento desses órgãos, o choque e a hemorragia característicos da síndrome do choque. E, por fim, vem a fase de recuperação, nos últimos dois a três dias da doença, quando esse plasma que foi extravasado dos vasos sanguíneos pode ser reabsorvido pelo sistema circulatório, e nessa fase o paciente pode desenvolver cansaço, descascamento da pele e até o inchaço do cérebro, nos casos mais graves. E casos raros e mais graves ainda, também pode acontecer a Mielite e a Síndrome de Guillain-Barré, que é a síndrome que acontece quando a própria resposta imune do nosso corpo ataca o sistema nervoso, o que pode causar fraquezas dos braços e das pernas, formigamento e nos casos mais sérios até perda do controle respiratório, que são mais raros. Isso pode durar de semanas até meses, mas, normalmente, a recuperação dessa síndrome é completa. Nós ainda não temos o entendimento completo sobre a Síndrome de Guillain-Barré, mas nós sabemos que ela pode acontecer casos de infecções como a dengue e até casos de gripe. E no caso de infecção de grávidas, a dengue também pode causar complicações para a gestação. Ela aumenta a chance de abortos espontâneos, nascimento prematuro e recém-nascidos abaixo do peso. Quando comparamos os vírus das pessoas que tiveram complicações com Amielite e a Síndrome de Guillain-Barré, com aquelas pessoas que não desenvolveram sintomas sérios, normalmente, a gente não encontra características do vírus que explique essas diferenças, o que indica que essa diferença toda se deve mais a saúde e a resposta imune dos infectados do que ao vírus. E como esses sintomas da dengue geralmente acontecem depois que o vírus já não está mais circulando no corpo nem no sangue, o tratamento da doença é na verdade o tratamento dos sintomas e não da causa principal. Esse tratamento consiste na reposição de líquidos, Acetaminofeno para aliviar os sintomas, já que o Ibuprofeno e o Ácido Acetilsalicílico podem agravar os sintomas de pior coagulação do sangue. O diagnóstico da doença se baseia nos sintomas e exames próprios para o vírus e para a resposta imune para ele. O problema com os sintomas é que dor no corpo, febre e vermelhidão de pele são os mesmos sintomas que acontecem outras doenças causadas pelo vírus chikungunya e pela febre zika. E isso, inclusive, atrasou bastante a detecção da febre zika quando ela apareceu aqui no Brasil, já que a gente estava no meio de surto de dengue. Esse, provavelmente, foi dos motivos que mascarou a circulação do zika vírus por parte da Ásia, já que ele estava circulando por regiões onde a dengue é comum, como a gente vai ver mais para a frente. Principalmente, porque durante surto com muitos casos, a maioria dos diagnósticos é feito com base nos sintomas e não nos testes sanguíneos, por causa do número de casos. Outra dificuldade do diagnóstico é que o período agudo no qual a gente pode realmente recuperar o vírus circulante no sangue dura muito pouco tempo, dura apenas alguns dias. Uma forma de contornar essa dificuldade, pagando o preço da gente não poder diagnosticar qual o sorotipo do vírus, é a detecção da nossa resposta imune. Durante três meses depois de uma infecção, ainda é possível identificar anticorpos recentes e pouco específicos contra a dengue, que podem confirmar se a infecção recente foi causada pelo vírus da dengue. Já os anticorpos específicos para a dengue podem demorar alguns meses para serem detectáveis, mas depois disso, eles podem ser detectados por toda a vida do paciente. Se os anticorpos específicos forem detectados durante ou logo depois de uma infecção, como eles demorariam meses para aparecer, são sintomas de que essa é uma infecção secundária, sinal de que o paciente já teve outro caso ou outros casos anteriores de dengue. A importância da gente poder detectar se o paciente já teve dengue outras vezes está uma característica muito particular da dengue: o aumento da infecção dependente de anticorpos. Isso porque a imunidade que a gente desenvolve contra sorotipo de dengue é suficiente para impedir que a gente seja identificado por ele novamente, mas essa imunidade só proteje contra os outros sorotipos por muito pouco tempo. Então, alguém que já foi infectado, por exemplo, pelo sorotipo dois, está protegido contra ele, mas poucos meses já pode ser infectado pelos sorotipos três e quatro na infecção secundária. Esse é dos motivos que torna difícil desenvolver uma vacina eficaz contra a dengue. Enquanto a febre amarela só tem sorotipo no mundo todo, então uma vacina é capaz de proteger todo mundo, uma vacina da dengue tem o desafio de precisar proteger contra quatro sorotipos diferentes, especialmente se essa proteção for parcial, ela tem chances de complicar a doença. Quando alguém é infectado mais de uma vez pelo vírus da dengue, a resposta parcial contra o sorotipo anterior dá chances de se desenvolver uma forma mais grave de dengue e com período crítico e com as complicações da síndrome do choque tóxico. Também pode envolver uma resposta imune mais exagerada, que contribui para que os capilares sanguíneos percam ainda mais sangue e que a coagulação seja mais comprometida. Quanto maior o tempo entre a infecção primária e a secundária, mais severas podem ser essas complicações no caso da infecção secundária. A gente ainda não tem o entendimento completo de como isso acontece, boa parte porque não existe modelo animal onde a gente pode estudar o processo todo, mas o melhor entendimento que temos da situação é que quando alguém é infectado pela segunda vez por outro tipo de dengue, pelo outro sorotipo, a resposta imune parcial é suficiente para que os anticorpos reconheçam o vírus, mas não é suficiente para inativar ele. Então, esse vírus fica marcado pelos anticorpos, mas continua capaz de infectar as células e o alvo deles são justamente as células imunes. Como os anticorpos atraem mais células imunes para cima do vírus, os macrófagos que atacam o vírus marcado acabam sendo infectados e espalham o vírus ainda mais pelo corpo e mais rapidamente. Para complicar, além dos quatro sorotipos de dengue circulantes, a gente ainda tem novas viroses transmitidas por artrópodes aparecendo no Brasil, o que vamos ver seguida. A gente deixa aqui no material de referência o guia do diagnóstico e manejo da dengue feito pela Secretaria de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde do Brasil com as instruções para diagnóstico e tratamento de pacientes. [MÚSICA] [MÚSICA]