[MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] A minha história com o samba é no mínimo engraçada porque eu hoje me vejo diante de mundo negro, que é o mundo do samba. E eu, que fui simplesmente atraído de uma forma hipnótica para esse mundo, porque eu, dentro de uma classe social para o nosso país considerada pouco alta, eu era envolvido com rocks contemporâneos, Emerson, Lake & Palmer, Genesis, Pink Floyd e por aí fora. Mas não sei porquê, hoje acho que sei, eu comprava sempre o álbum das escolas de samba. Desde oito anos de idade eu pedia a meus pais para comprarem e decorava aqueles sambas e enredos. Levando consideração que eu venho de lado árabe, eu acredito que as informações e os atabaques árabes podem ter contribuído para esse meu fascínio pelo mundo do samba. Então, hoje eu estou dentro da Sapucaí, sou dos julgadores de bateria do grupo especial, e realmente para mim é sonho. Eu estalo o dedo para ver se é verdade tudo o que eu estou vivendo e tudo o que o samba dá. E eu vivo hoje do samba. Conforme esse mundo do samba foi crescendo na minha cabeça e eu vivendo nas escolas de samba, algum momento, com a saída de sistema de governo nosso, possibilitou a entrada na rua da população para que a gente revigorasse uma história muito antiga, que são os blocos de rua de Carnaval, que ficaram de uma forma na resistência do subúrbio, Madureira, mas na zona sul não existia mais. A partir de 85, quando muda o regime de governo do país, esses blocos invadem, eu vou junto com essas pessoas e começo a tentar timidamente tocar, porque eu não sabia tocar e fui aos poucos, tentando desenvolver trabalho olhando, percebendo, criando coisas, até que algumas pessoas pediram que eu os ensinasse a tocar. Era tanta a euforia naquele momento dos blocos de rua. Eu abri lugarzinho, dava aula para três pessoas, ajudava a pagar até o local para dar aula, como prazer. Quando eu me vi, hoje eu tenho mais de 100 alunos e vivo só disso. Não tenho mais nenhum trabalho paralelo. Sou formado administração de empresas mas hoje vivo dentro do samba, só do samba e minha oficina chama-se Aritmética do Samba. Existem vários tipos de samba, vários andamentos, mais rápido, mais devagar, conteúdo de letra romântico, de breque, sambas de enredo, que são as escolas, samba-balanço, o samba levado para o chorinho. E tudo vai identificar momento da nossa história vindo pouco lá de trás, de Chiquinha Gonzaga, passando pelo maxixe até estourar aqui no Rio de Janeiro com a informação da Baía da Tia Ciata, com a formação dos grandes encontros para se fazer o verdadeiro samba, o samba de raiz que veio desta época. Hoje, se a gente voltar especificamente para as escolas de samba, nós temos variação dentro desse andamento que eu falei, dentro do próprio ritmo acontecer uma variação, uma aceleração. Existe também uma diferença de escola de samba para o bloco, onde a escola de samba é mais acelerada. Existem vários motivos para que a gente possa tentar entender dessa variação. Uns dizem que a quantidade de ritmistas numa avenida aumentou então, eles tocaram mais rápido para esse pessoal sair. Outros dizem que foi a queda da qualidade do samba que, acabou de uma certa forma, fazendo o caminho inverso. Porque nós tínhamos os bailes de Carnaval com as marchinhas, as bandinhas e nesses salões de baile de Carnaval eles convidavam algumas baterias para irem tocar também abrindo dois salões. Salão tinha samba-enredo, noutro tinha marchinha. Esse contato meio que "marcheou" pouco o samba-enredo. Existe uma preocupação grande de entender o que é uma levada de samba e não descambar para o lado da marchinha. Existe uma série de informações que a gente pode buscar para tentar entender o que acontece dentro dessa variação. O samba hoje tem uma entrada do samba, refrão, uma segunda do samba e refrão. Lá na sua origem era samba direto, não tinha refrão nenhum. Era samba quilométrico que a gente chamava de samba lençol, que era enorme. A primeira do samba era composta. A segunda era feita de improviso na avenida e o canto era feito pelas pastoras, pelas mulheres, porque não tinha microfone, então, para você projetar a voz, as mulheres com a voz aguda projetavam mais. Quando o microfone e a eletricidade entram, os homens tomam conta e passam a fazer o canto na avenida. E aí o samba passa a ser realmente composto, inteiro, e lembrando que tinha muita identidade. Cada escola tinha a ala de composição, tinha sua bateria. Tudo era só daquela escola. Quando entra para a historização, a globalização, membro toca ou canta todas as escolas, o ritmista vai para cá ou vai para lá, salvo algumas excepções, algumas escolas que mantêm uma identidade bastante forte ainda. Então, como falei, antes o samba era feito de uma forma direta, hoje a gente tem dois refrões. A gente chama a entrada do samba primeira do samba, cai no refrão e cai na segunda do samba, onde é que eu vou descrever melhor o enredo. O ritmista, voltando para a bateria, na primeira do samba a gente usa o termo "tocar para a frente" que é pouco mais de pegada, mais alto, mais forte. Na segunda, até para que o samba pudesse ser narrado na hora do canto, tirava-se a mão. O termo que a gente usa "tirar a mão", cair pouco a potência do toque. O que eu por vivência própria entendo que é engano misturar a parte de criatividade com o trabalho si. O artista, na minha visão, às vezes se perde porque ele não sabe canalizar. Independente do grande potencial que ele tem artístico, musical, cultural, por outro lado, quer fazer negócio. Ele tem que viver. Então, não dá para você não arregaçar a manga e trabalhar sério todo o dia fazendo aquela história acontecer. Então, o conselho que eu dou é: encare como negócio. Não perca sua parte de criação, que é o mais importante, mas aprenda a gerenciar como negócio.