[MÚSICA] [MÚSICA] Na saúde, por se tratar de situações que muitas vezes representam a perda da vida ou a perda da vida com qualidade, não aceitamos perder. Quando enfrentamos uma situação de doença, seja conosco ou com algum familiar, não aceitamos que simplesmente até o momento não exista uma cura disponÃvel. Em outras áreas fora da saúde nós aceitamos com tranquilidade e racionalidade que a tecnologia ainda não evoluiu ao ponto que desejamos. Por exemplo, se eu desejo fazer uma viagem a paÃs que fique num hemisfério diferente ao que eu resido, eu sei que eu preciso de planejamento a fim de conseguir adquirir a passagem aérea, ficar o tempo que requer, viajando dentro do avião, e aà sim chegar nesse hemisfério. Se por exemplo eu quisesse essa noite estar no Japão, assistir a evento que eu desejo muito participar, eu poderia perguntar se já existe técnica de teletransporte, faria uma busca na internet e verificaria. Não, a única forma de se transportar mais rápido é por meio do avião e nesse caso, para eu ir para o Japão, eu precisaria pelo menos de 20 horas dentro de avião e essa noite eu não consigo chegar lá de nenhuma maneira. Então eu consigo me resignar e aceitar que esse é o estado atual da evolução da tecnologia. Por outro lado, na saúde nós negamos a possibilidade de de que ainda não há um tratamento efetivo. Pode haver tratamento que não é aquele que queremos e nós então gastamos a nossa energia, a nossa esperança na busca de haver algo que de fato resolva. A tecnologia tem que ter evoluÃdo para resolver o meu problema, seja por meio de um investimento que eu vou fazer junto com a minha famÃlia ou de um pedido ao governo para que financie o que eu desejo. Nessas situações, uma frase corriqueira é: a esperança é a última que morre. Ok, mas, enquanto a esperança não morre, outros fenômenos ocorrem na vida do doente ou dos seus familiares. O endividamento, a perda do foco do que de fato deverÃamos estar priorizando no momento, como por exemplo ter bom momento junto aos seus, fazer uma boa viagem, ter uma refeição de qualidade ou mesmo mudar o foco do tratamento, investir em cuidados paliativos e abandonar tratamentos invasivos e que diminuem sobremaneira a qualidade de vida do paciente. Quando essa pressão sai do nÃvel individual e chega nos sistemas de saúde, há um problema ainda maior. Essa pressão pela necessidade de haver uma cura, algo mais moderno e que resolva o problema, tira o foco da objetividade dessa decisão. A decisão, que outrora poderia ter sido realizada com base na evidência cientÃfica, passa a ter uma carga pesada das emoções das pessoas que desejam a cura, desejam aquele tratamento. Então, quando temos esse ônus, esse peso da esperança no bojo da tomada de decisão, esse processo de tomada de decisão fica muito mais difÃcil. Via de regra, passamos a investir recursos financeiros em algo que ainda não há comprovação que funciona e deixamos de gastar em tecnologias que já sabemos que funcionam, pois os recursos são limitados. Se eu decido adquirir uma nova tecnologia, eu estou retirando recurso de alguma outra área. Precisamos então ter foco e transparência para fazer a avaliação das tecnologias quando da sua utilização, seja no nÃvel individual, seja no nÃvel coletivo. As ferramentas que estamos aprendendo aqui nesse curso de saúde baseado em evidências são úteis nesse processo: em trazer maior objetividade no processo decisório, afastando o desespero e outras pressões de emoções que dificultam a tomada de decisão com maior clareza. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [SEM SOM]