[MÚSICA] [MÚSICA] Olá pessoal. Nesta aula falaremos sobre os limites da evidência. Tenha em mente que ao longo da sua aplicação, na saúde baseada em evidências, você estará lidando também com evidências limitadas. Nem sempre elas serão as evidências ideais que você esperaria para tomar uma decisão. Porém, você precisará tomar essa decisão e elaborar recomendações, mesmo com a evidência disponível não sendo exatamente aquela que você gostaria. Uma discussão importante foi levantada sobre esse aspecto em 2003, com uma edição do British Medical Journal. Os autores buscaram, uma revisão, estudos que avaliassem a efetividade do uso de paraquedas na prevenção de traumas. Fizeram toda a busca na literatura tentando identificar ensaios clínicos randomizados que comparassem umgrupo saltando com paraquedas e outro sem paraquedas. Como era de se esperar, não foi encontrado nenhum estudo desse tipo na literatura. Qual a conclusão dos autores? Ora, se você acredita radicalmente que todas as intervenções de saúde devem ser sempre baseadas em evidências provenientes de ensaios clínicos randomizados, você deveria abolir o uso de paraquedas, pois não existe sequer evidência de sua efetividade. Os autores ainda sugerem que as pessoas que acreditam radicalmente nessa posição, sejam voluntários para ensaios clínicos randomizados dessa forma. A crítica é muito inteligente e traz à tona essa discussão dos limites da evidência. Será que não temos mesmo evidência de efetividade do uso de paraquedas, apesar de não ter sido testado em ensaios clínicos randomizados? Se você procurar por relatórios da associação americana de paraquedismo, você encontrará dados como o registro de dezoito mortes mais de dois milhões de saltos de paraquedas. Ora, para mim isso é suficiente para acreditar no efeito de paraquedas e, na necessidade, eu utilizaria. Esse é só um exemplo de situações onde o ensaio clínico randomizado não é possível ou muitas vezes não é factível. Outras situações podem convergir em algo semelhante. Por exemplo, em casos de doenças raras, você dificilmente terá grandes amostras, que seria o esperado para se ter poder estatístico e avaliar o efeito de uma intervenção. Mas você terá que tomar decisões mesmo emposse desses estudos com pequenas amostras. Doenças crônicas necessitam, comumente, de longo tempo de acompanhamento para você observar os desfechos de mortalidade, entre outros pontos que você estaria interessado. É difícil você ter sempre disponível esse ensaio clínico com longo tempo de acompanhamento, e você pode ter que usar outros desfechos para a sua decisão. Conduzir grandes ensaios clínicos randomizados, com grandes tamanhos de amostra, com longo tempo de seguimento, exige uma quantia substancial de recursos, tanto humanos quanto financeiros. E isso estará comumente associado ao patrocínio do próprio fabricante, ou seja, tenha em mente que você irá se deparar com situações de conflitos de interesse. Você também irá se deparar com situações de ausência de interesse, intervenções que não trarão mais tanto lucro para a indústria farmacêutica, por exemplo, comumente não são mais estudadas por meio de ensaios clínicos randomizados, apesar de terem potencial efeito. Você terá que tomar decisões mesmo na posse de estudos com uma qualidade, potencialmente, inferior a um bom ensaio clínico randomizado. Está certo pessoal. Entendam que muitas vezes vocês terão que lidar com a melhor evidência disponível, apesar de não ser aquela que você desejaria. Até mais! [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]