[MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] >> Eu vou conversar agora com o Doutor Jorge Otávio Maia Barreto que é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, na diretoria de Brasília. Doutor Jorge foi secretário municipal de saúde de Piripiri município do Piauí, de 2005 a 2012, e ele implantou na gestão dele diversas políticas baseadas evidências, assim como promoveu a elaboração de sínteses e Policy Briefs para política. E o Doutor Jorge faz parte do Comitê Consultivo da Rede para Políticas Informadas por Evidências, a EVIPNet Brasil, desenvolve pesquisas sobre o sistema de saúde com enfoque na atenção básica, na atenção primária a saúde e processos de incorporação do conhecimento científico a tomada de decisão nas políticas de saúde Muito obrigada Jorge por dividir o seu conhecimento com a gente. >> Obrigado Tais, é prazer contribuir com essa atividade, com o curso e eu estou sempre à disposição. >> Sim, a gente sabe. Jorge, geralmente quando a gente fala aplicar pesquisa pra embasar políticas, falamos conciliar dois mundos diferentes. E eu não sei se nem se a palavra é conciliar, se eles são irreconciliáveis, enfim né, teoria, mas bincadeiras a parte qual é a sua visão sobre essa aproximação, tanto na sua experiência prévia como gestor como hoje sendo pesquisador e preparando evidências científicas. >> Bom Tais, acho que tem duas coisas ai que eu gostaria de abordar. O primeiro é o cenario geral dessa aproximação que não é problema novo, essa questão do uso de resultado de pesquisa pra favorecer o processo de formulação de política, ele é o marco do início da área .de políticas públicas como área de conhecimento dentro das universidades, principalmente nos Estados Unidos, começa na década de 40 O reconhecimento de que o processo de formulação de política ele era muito acrítico e do ponto de vista diria de sucesso da efetividade das políticas ele determinava o quanto mais fundamentado intenções e vamos dizer valores ou apenas boa vontade, menor é a certeza de que você vai produzir bons resultados. É claro que valores e intenções e boa vontade são absolutamente importantes e tem que estar presente e são eu diria forte indicativo de direcionamento de políticas, porque uma escala de prioridades alguns valores podem prevalecer e outros podem ser esquecidos, então é muito importante ter isso transparente, mas o fundamental é que o processo inteiro da tomada de decisão ele é processo reconhecidamente complexo e que há uma série de insumos que vão aportar geral relacionados com ideias, com valores e com análises de possibilidades que são feitas pelos tomadores de decisão, esses insumos eles competem entre si de uma maneira bastante, eu diria, ostensiva e eles vão ocupar na tomada de decisão lugar de determinação, então eles vão ser usados de alguma maneira pelos tomadores de decisão, a grande questão é o quanto o conhecimento científico participa desse processo que como eu ja disse é processo complexo e competitivo mas é acima de tudo pouco transparente, então a ideia de usar o conhecimento científico é além de fortalecer o próprio processo na direção de políticas mais efetivas, existe esse potencial, não é uma promessa é uma possibilidade, também aumenta a transparência da tomada de decisão então esse é primeiro aspecto que eu acho muito importante dessa aproximação, entre o mundo que produz conhecimento e o mundo que produz políticas, eu diria até que essa relação não é nem entre produtores e usuários porque na verdade isso é meio confuso quem que produz e quem que usa porque as instituições de políticas também produzem conhecimento, elas não são apenas usuárias, não são aquelas que vão receber como é alguém que visita oráculo e recebe aquela informação, então tem que ter processo interativo, então essa é a chave pra essa aproximação, não é apenas a ideia de que são mundos diferentes com dinâmicas, com tempos, com interesses, com repertórios e caixas de ferramentas bem diferentes mas é preciso favorecer o intercâmbio e se possível algum nível de integração, se não integração completa, porque isso seria realmente muito difícil, e tem uma coisa muito interessante que eu gosto de dizer que não se trata de transformar pesquisadores gestores e nem gestores pesquisadores isso não daria muito certo porque o ambiente é diferenciado, então eu posso até lembrar que Platão, que era filósofo, seria o equivalente aos pesquisadores da sua época, ele defendia o governo dos filósofos, só que nas duas tentativas que ele fez ele não se saiu muito bem não, nas duas vezes ele teve que fugir das cidades-estado aonde ele estava atuando pra não ser morto, então são duas coisas que realmente tem estruturas dinâmicas, ambiente completamente diferente, isso é a primeira coisa que a gente precisa ter mente. A segunda coisa que a gente pode ter mente é que a operacionalidade dessa aproximação ela pode se dar todos os níveis ela não é uma coisa só pra Ministério da Saúde, ou não é uma coisa só para o alto nível de formulação, porque os implementadores também precisam muito de evidência, porque você tem evidências sobre o que fazer larga escala, como por exemplo uma vacinação ou como por exemplo uma adoção de modelo de pagamento, mas voce tem o processo operacional de transformar isso algo real, então as estratégias de implementação também podem requerer suporte de evidência e pra isso é que o nível mais local, que é a minha experiência que é mais essa segunda questão que eu quero abordar, você tem uma grande possibilidade, existe uma grande área a ser explorada no que diz repeito à estratégias de implementação formadas por evidências, bem fundamentadas, e como isso ajuda que uma aproximação entre gestão e academia seja mediada pela necessidade da informação para coisas reais, para coisas concretas então esse são os dois aspectos do grande cenário das políticas informadas por evidências que a gente pode usar pra dar pontapé inicial nessa conversa >> Ótimo, eu acho que foi bem abrangente assim e realmente mostra o potencial como você falou e a importancia disso. E ai quais estratégias podem ser implementadas então para facilitar esse processo de tomada de decisão baseada evidências, de evidências para política. Então considerando isso que eu falei de que você tem que ser introduzido e ao mesmo tempo introduzir as evidências científicas como subsidios dentro de ambiente complexo e competitivo, você tem que ter ferramentas, não é pelo convencimento, não é usando argumento axiológico, vamos dizer assim, você precisa mostrar como fazer então existem as plataforma de suporte as políticas informadas por evidências que geral elas usam estratégias relacionadas com tradução do conhecimento esse conceito de knowledge translation que é bastante disseminado e eu diria que bastante bem aceito internacionalmente e eu diria também aqui dentro do Brasil. que é processo interativo e dinâmico que envolve algumas etapas, que passa pela síntese pela disseminação, pela aplicação ética e pelo intercâmbio de conhecimento então esses elementos eles se transformam ferramentas ou estratégias, depende de como você vê, e que se tornam ações bem concretas, então por exemplo, se você pretende melhorar o acesso dos tomadores de decisão às melhores evidências disponíveis num tempo oportuno para que eles usem isso na sua tomadas de decisão, você precisa estabelecer métodos de síntese de evidências que sejam confiáveis e compreensíveis pra essas pessoas As coisas importantes para quem vai acessar esses materiais é entender como eles foram feitos. Então, muitas vezes, você tem...existem diferentes >> modalidades. >> Sim. >> Você deve esses... as revisões temáticas são as mais, eu diria, conhecidas e mais utilizadas todo mundo, mas é preciso reconhecer que existem dificuldades, por exemplo, para gestor acessar uma revisão sistemática e a partir desse material tirar suas próprias conclusões. É muito complicado hoje, você atribuir ao tomador de decisão essa tarefa, não é? Então, as sínteses de evidência numa etapa mais, >> eu diria que elevada, não no sentido de hierarquia, mas de olhar mais por cima >> Sim, sim. a evidência global, ela vai congregar resultados de diferentes revisões sistemáticas e aí, nascem os overviews de revisões sistemáticas, as sínteses de evidências para políticas, que incluem, além de evidência global, também, evidência local. Então, são exemplos de como as ferramentas podem ser utilizadas para você estruturar uma plataforma sobre a qual a tradução do conhecimento vai trabalhar a favor das políticas informadas por evidências. O mais difícil nesse processo todo, diz respeito a etapas de adaptação e aplicação. Então, a síntese e a disseminação não são processos tão pouco conhecidos, já se sabe bastante qual é a estrutura que uma síntese de evidência deve ter, qual é a linguagem que você deve adotar para diferentes públicos, mas quando se fala adaptação de evidência e aplicação de evidência, principalmente, como estratégia de implementação efetiva, aí, a área de desenvolvimento, eu diria, está pouco menos avançada. Então, você tem esse campo todo para explorar e avançar. Mas fundamentalmente, esse é processo muito, eu diria, participativo porque o processo de desenvolvimento dessas soluções metodológicas é marcada por uma necessidade delas fazerem sentido para quem vai utilizá-las. As revisões sistemáticas nascem assim, inclusive. Elas nascem para favorecer o acesso a grande conjunto de artigos primários, estudos primários, a partir da leitura mais confiável, num sentido de escrutinar o >> método, e isso, inicialmente, é para facilitar o acesso de pessoas... >> à tomada de decisão, sim. todo esse material, que seria essa etapa de síntese. Então, esse é o cenário geral das plataformas. É claro que existem diferentes soluções para cada uma dessas etapas, mas no geral, elas convergem compreender que é preciso sintetizar evidência, é preciso estabelecer diálogo entre a evidência global e o contexto, e aí, entra o intercâmbio, é preciso fazer conhecer a evidência, porque a redução da assimetria de informação entre os atores de processo político é fundamental para melhorar a participação e é preciso, acima de tudo, na maior parte das vezes, adaptar essa evidência e não descartar uma evidência sumariamente porque é contexto indiferente. Sempre, existe alguma lição a ser tomada, algum dado a ser usado, e tudo isso, num processo muito transparente porque o nível da incerteza é muito grande nesse processo todo, então, quanto mais transparência ele tem, mais imunização nós temos aos efeitos que as incertezas provocam no processo inteiro. Sim, e aí, você ganhar, acho que a síntese disso que você falou seria assim, ganhar a confiança, ganhar a participação dos envolvidos, tendo consciência da limitação da evidência, mas transformar o processo aprendizamento realmente, que se torne cultura institucional. Sim, esse é ponto importante porque no marco de mudanças, onde as políticas informadas por evidências tentam produzir, quando essas plataformas são organizadas, está esse ponto da mudança da cultura institucional, quando se fala de organizações de saúde, mas, também, da cultura de deliberação social. Então, geral, a sociedade não tem a oportunidade, sequer, de considerar as evidências na sua deliberação pública, da sua formação de opinião, porque, ela é muito conduzida, vamos dizer assim, a partir de atores que são muito importantes, como, por exemplo, a grande mídia, os próprios governos, e, às vezes, a própria ciência, mas reduzir a assimetria de informação é ponto chave para que a gente consiga, >> já falei, melhorar os processos participativos. >> Sim, você já mencionou alguma coisa, mas, mesmo assim, vou te fazer a pergunta aqui. Como você vê o papel, então, da revisões sistemáticas, das repostas rápidas, revisões sistemáticas rápidas para ajudar esse processo? Eu gostaria de acrescentar questões relacionadas com o que se faz depois que você tem uma síntese. Então, tem uma coisa muito importante com relação a escolha, por exemplo, de escopo, quando você vai decidir fazer uma revisão sistemática, quando você está discutindo quais são as questões, as perguntas ainda não respondidas, o que precisa ser respondido. É muito importante você buscar uma validação dessas questões para que elas façam sentido para o potencial usuário daquela informação. Eu diria que, mesmo revisões sistemáticas de aspecto clínico, elas fazem uma verificação se aquela questão já não foi abordada, ou se não está sendo abordada atualmente por algum grupo. Exatamente, por isso, que a gente protocola a revisão sistemática para poder dar conhecimento prévio às pessoas que, potencialmente, teriam interesse naquilo. Mas quando se trata de revisões sistemáticas de políticas, eu diria que, é mais significativo ainda, que você tenha uma pergunta que possa fazer sentido para o contexto aonde ela vai ser utilizada. Então, esse é ponto. A outra questão é que, muitas vezes, uma revisão sistemática tem limitações de discussão sobre contexto, porque ela tem papel de albergar evidência global. Evidentemente que, evidências locais, se estiverem disponíveis, seriam incluidas. Mas, passo adiante na contextualização do potencial de uso dessa evidência, pode ser dado quando nós estamos diante, por exemplo, de documentos de política, como nas sínteses de evidências para políticas, ou, eventualmente, outros tipos de síntese mais específicas para aplicação, como acontece, por exemplo, com alguns overviews de revisões sistemáticas. Então, essas são ferramentas absolutamente importantes para a síntese da evidência e, às vezes, com passo adiante para a contextualização e até para o intercâmbio dos tipos de conhecimento relacionados com determinado problema, mas, existe esforço muito grande para disseminar essa síntese. Não adianta você ter uma publicação para a academia, isso é importante, mas isso não é suficiente para que esse conhecimento chegue ao público, potencialmente, interessado. Então, desde a adoção de estratégias de disseminação pela adaptação da linguagem, você fazer resumos mais, vamos dizer, direcionados para público que não tem familiaridade com aqueles termos, isso pode ser importante, e, existem outras estratégias de disseminação estruturada que incluem diálogos de políticas, também chamados de diálogos deliberativos, que são amplamente utilizados ao redor do mundo, e outras estratégias que são mais interativas, com o sentido de que não é uma disseminação passiva, ou uma difusão onde você envia a informação e não sabe o que acontece a partir de então. Você tem que ter processo mais interativo para poder que a comunicação, que exige dois polos, não tem comunicação quando você só envia informação ou só quando recebe, e que uma comunicação eficiente e efetiva possa ser estabelecida entre os diferentes setores interessados, com problema e, consequentemente, nas evidências sobre aquele problema. Então, esses documentos são documentos de síntese, que são altamente relevantes, mas, também, é altamente relevante que nós consideremos as estratégias para dissertá-los. Sim, e fazer o envolvimento desde o princípio, não é? Seja no momento, se o objetivo é elaborar a revisão, ou se o objetivo é identificar a revisão, mas que os atores se sintam parte, e possam opinar no processo, do que ser essa atividade passiva que você mencionou. Jorge, a gente sabe das limitações metodológicas que esses documentos podem ter, uma revisão sistemática, enfim, eu costumo até falar que, muitas vezes, tem alguns documentos, alguns... Algumas pesquisas que podem ser uma sopa de letrinha. Sai falando a reprise, uma grade, monte de coisas, mas não responde a pergunta, ou tem limitações sérias; podem ser enganosas, enfim. Então, esse outro lado. Por lado, teria, ali, nível elevado, não sentido de qualidade, mas no sentido de síntese, de agregação das evidências, que é a revisão sistemática, mas ela não é imune a falhas. Sim. >> Então, como você vê isso? Então, para pesquisador treinado, ele pode mesmo assim derrapar. Sim. >> Agora, nesse processo de tradução do conhecimento envolvendo atores que não estão na prática de avaliação crítica da evidência científica. >> Bom, no planejamento, a única lei que eu conheço. A gente pode falar assim: Lei natural do planejamento. É que o planejamento vai falhar. Ciência, a única lei natural que eu conheço é que a ciência tem falhas. Então, o primeiro passo, no caso, é reconhecer que existem vulnerabilidades. Geralmente, elas decorrem de limitações metodológicas, mas nem só. Então, você tem, obviamente, a transparência como sendo aspecto absolutamente... Eu não diria único, porque existem outros cenários, mas a ciência favorece a transparência na medida que o método precisa estar explícito. Ele precisa estar bem descrito e explícito. Se não estiver, só isso já motivo de você acender alguns sinais de alerta. Mas como e que a gente lida com isso? Olha! O campo de políticas, assim como outros campos, o campo clínico, talvez, compartilhe bastante isso. É campo de incertezas. Você pode fazer afirmações categóricas sobre muitas coisas. Quase sempre, você vai ter que descrever quais são as incertezas envolvidas. E a metodologia inclui conjunto que deriva essas incertezas. Então, como você tem pouco tempo, às vezes, para fazer uma síntese de evidências sobre tema emergente, muitas vezes, você tem que abdicar de algumas etapas, ou simplificá-las. Isso representa impacto importante para o resultado final. E esse impacto pode ser, mais ou menos, transparente na medida que você deixa isso claro. Como, por exemplo, se você resolve, ou precisa, reduzir, por exemplo, o número de bases que você vai buscar. Então, são escolhas que são bem disseminadas no ambiente global de produção de síntese de evidência, inclusive de respostas rápidas, mas que representam alguns riscos. Claro. E reconhecer esses riscos e torná-los explícitos sempre é uma conduta altamente recomendável, se não obrigatória. De uma maneira geral, quanto mais dentro do campo, eu diria de, arranjos organizativos, que incluem arranjos de prestação de serviços, de financiamento, arranjos de governança, arranjos de implementação. É mais fácil de você ter grandes incertezas. Por vários motivos, porque você não tem uma homogeneidade do tipo de estudo que você vai usar. Você é obrigado a utilizar, por exemplo, desde estudos observacionais até, na maior parte das vezes é o que tem de melhor disponível. São estudos observacionais. Às vezes, até estudos que apresentam análises políticas. Então, existe uma variabilidade muito grande de designs e esses delineamentos, obviamente, impactam na confiabilidade dessas evidências. Mas o fundamental não é, exatamente, buscar apenas as evidências totalmente confiáveis, porque, provavelmente, no campo de políticas, você não vai encontrar muito disso. É você descortinar o nível de confiança que você pode atribuir a cada achado. Isso é fundamental, porque na medida que você oferta certezas falsas aos tomadores de decisão, você, na verdade, está produzindo uma chance de desconfiança futura. É como... A melhor comparação que eu encontro. Se você falhar uma vez, você sobe pouquinho no grau de desconfiança. Se você falhar muitas vezes, provavelmente, você vai perder toda a confiança. E a confiança perdida é muito difícil de ser recuperada, todos os cenários. Então, para melhorar a relação entre pesquisadores e tomadores de decisão, é muito importante que os problemas metodológicos sejam bem descritos. E, para isso, você precisa desenvolver competências. Você mencionou prisma, grade e tal... >> Sim. Várias coisas que precisam ser feitas. Primeiro, você precisa ter uma boa competência para identificar falhas metodológicas, para identificar erros, para identificar enganos, para identificar mentiras. Então, você precisa ter repositório de ferramentas. Agora, esse é o pesquisador; você precisa ter, também, a capacidade de comunicar os resultados dessa confiança avaliada ao leitor. Ao leitor, ao usuário, às vezes, até uma pessoa com quem você vai conversar; você precisa dizer que 'AMSTAR', nove de dez, para essa pessoa, não significa absolutamente nada. Então, você precisa traduzir isso assim como você precisa traduzir, também, os achados. E para ser bem sincero com você, nós temos avançado significativamente, porque nós temos praticado. >> Sim. >> Esse é o fundamento. Eu acho que no cenário brasileiro, nós temos várias experiências de desenvolvimento... Principalmente de síntese de evidência e de revisões rápidas. As primeiras, obviamente, tem menos qualidade, mas quanto mais você faz, mais condições de desenvolver você adquiri. Então, é processo de aprendizagem e acho que nós estamos bom caminho para melhorar essa nossa dificuldade de lidar com tanta informação, com tanta, com tanta diversidade metodológica, não para reduzí-la. Nunca para reduzir a diversidade metodológica, porque existem processos de desenvolvimento metodológico que são permanentes. Mas, principalmente, para saber utilizar corretamente o método, saber utilizar corretamente a forma de avaliar a qualidade dos estudos etc Eu acho que, si por lado, pode ter uma evidência frágil, enfim, mas teve aprendizado do processo e a cultura vai se solidificando. E com a transparência, você percebe. "Olha! Não é a melhor informação, mas é alguma informação." É melhor do que a gente só se pautar intuição, ou o que eu gosto, enfim. >> Sim. E outro aspecto que a gente também tratou aqui no nosso curso, que a gente trata nesse curso; são as revisões sistemáticas de evidências qualitativas. Então, como você vê o papel das sínteses de evidência qualitativa para embasar políticas? >> Muito boa essa sua pergunta, porque nós estamos observando e experimentando crescimento da relevância da evidência qualitativa, principalmente, para política informada por evidências. Porque, até o momento, eu diria até que ela está muito relegada a plano de triangulação, de dar suporte a, eventualmente, análises ou avaliações quantitativas. Mas nós precisamos entender que a evidência qualitativa tem lugar privilegiado, pelo menos deve ter lugar privilegiado, no entendimento, porque as coisas são como são. Então, é muito mais no sentido de você explorar fenômenos que estão só lugar, no seio da sociedade, às vezes, pequenos grupos. E descobrir sobre esses fenômenos requer métodos qualitativos. É impossível você, por exemplo, escrutinar por que determinados valores sobressaem, determinado grupo social, usando só métodos qualitativos. Então, a primeira coisa, compreender que a pesquisa qualitativa tem uma relevância real para você abordar questões importantes para tomadores de decisão e para formulação e implementação de políticas. A segunda coisa é que ela, também, precisa reconhecer que tem suas limitações. Então, a qualidade dos estudos é fundamental para você atribuir confiança aos achados. E a terceira coisa é que é possível, também, sintetizar evidências primárias qualitativas. E isso pode ser feito no desenvolvimento de estudos de síntese de evidências qualitativas, que estão ganhando bastante espaço e notoriedade. Não apenas para dar suporte a achados da evidência quantitativa, mas, muitas vezes, elas passam a ser o ponto mais importante de processo de avaliação ou de formulação. Porque você tem questões como a aceitabilidade, você tem questões como, eventualmente, sentimentos, conhecimentos, que, realmente, são impactantes na hora de você fazer uma implementação. A minha experiência como gestor demonstrou, várias vezes, que o não entendimento, a não compreensão, do contexto de implementação, Muitas vezes, pode ser mais importante para o sucesso da implementação de uma ação, de uma política, de programa, do que descobrir o que funciona. >> Sim. >> Então, esse é fenômeno que iniciou... Não é uma coisa de agora, já tem alguns grupos, inclusive, do 'grade' da 'cochrane' e várias iniciativas, líderes mundiais, no campo de evidências, para favorecer o desenvolvimento mais competente, desenvolvimento mais transparente, nesse tipo de produto. E acreditamos que esse é bom caminho a perseguir, até porque o Brasil é grande produtor de evidência qualitativa. E aí a gente se pergunta... Eu diria que proporção, acho que a gente até produz uma quantidade de evidência qualitativa, no conjunto geral, por exemplo, da saúde coletiva, da saúde pública; talvez a gente tenha uma produção até, eu diria, meio a meio. Eu não tenho esse dado aqui, mas se for assim, mais necessário ainda é a gente abordar essa quantidade de conhecimento de uma forma a produzir o caminho para a tradução do conhecimento; para que esse material possa ser utilizado pelas pessoas. Então, apostamos bastante nisso e acho que é tópico que deveria atrair bastante curiosidade, se não, interesse, pelo menos curiosidade, do estudante de política informada por evidência, ou de saúde baseada evidências. Isso já pode ser observado, por exemplo, nas grandes organizações como Anna Age Eight, como o CAT, como, eventualmente, o instituto SAX, na austrália; mas, também, nas redes. Então, a gente já vê, por exemplo, na rede internacional de avaliação de tecnologia e saúde, os últimos grandes temas dos seus encontros globais foram relacionados com aspectos de implementação. Então, existe uma preocupação que foi percebida mais recentemente, mas que não é uma preocupação nova da área que lida com política informada por evidência, de que evidência qualitativa tem papel e é papel importante. Tanto no processo de desenvolvimento de avaliação de tecnologias quanto no processo de desenvolvimento de diretrizes clínicas, de guidelines, como no processo de informar a política, seja para o governo, seja para a sociedade. Então, sem dúvidas, é tópico de alta relevância hoje. Ótimo. Até porque é aquilo que você falou, não é só a questão da qualidade da evidência, eu tenho certeza que funciona. Mas e aí, o contexto está pronto para incorporar isso? As pessoas vão aceitar de bom grado e vão aderir? Porque é diferente, aquela eficácia do que é o mundo real mesmo. E você já deu várias dicas, mas eu gostaria que você deixasse como mensagem final, para os nossos alunos, que outras ferramentas eles podem procurar; ou que outras indicações você pode dar para se aprofundar sobre esse processo de utilização de evidências para política. Existe uma rede global que lida com isso, não uma rede institucionalizada, mas uma rede de cooperação global que envolve diversas instituições. Entre elas, a própria OMS, com a rede de políticas informadas por evidências, que é VIPNET global, que tem componente nacional gerenciado e gerido pelo ministério da saúde. Mas existem várias outras iniciativas, como o '3ie', como o Hell Forum da McMaster, como o What Works, que é uma colaboração que envolve várias instituições multinacionais. Você tem, eu diria, já quase uma quantidade de iniciativas que, às vezes, até torna difícil a gente navegar entre todas. Mas não faltam recursos, não faltam iniciativas super interessantes. Os 'Evidence Gap Maps' dão uma amostra de que existem outras etapas a serem perseguidas, outros níveis de sínteses a serem, eu diria, perseguidos, porque tem interesse para isso. Mas de uma maneira geral, existe mundo a ser descoberto e, obviamente, o nosso desafio aqui no Brasil é muito mais, eu diria, de trazer trazer isso para o cotidiano; o cotidiano do pesquisador. Porque pode parecer estranho, mas ainda soa alienígena, às vezes, quando você está contexto de pesquisa e menciona os conceitos de política informada por evidência. Ao ponto de, às vezes, a gente achar que você tem também pesquisa informada por evidência. Porque a própria definição de prioridades é tão distanciada, a prioridade de pesquisa é tão distanciada da realidade que, às vezes, a gente acha que talvez seja necessário que a gente estabeleça processo de tradução do conhecimento para a academia; no sentido, eu diria, reverso. Mas é isso, de uma maneira geral, é mundo a ser descortinado. Para a gente que está dentro desse contexto, as coisas parecem muito naturais e óbvias, mas eu tenho certeza que as pessoas vão se surpreender se explorarem pouco mais esse ambiente. Não apenas acadêmico, mas de iniciativas institucionais. E descobrir que aqui no Brasil nós temos uma grande rede de colaboração, de produção, inclusive, e que está se aprimorando a cada dia. Eu acho que é bem importante. Ótimo Jorge. Jorge, muito obrigada pelo seu tempo, pela sua experiência e simpatia, também... Por quê não? Estar dividindo aqui com os nossos alunos. Eu que agradeço e sempre é muito bom ter a oportunidade de apresentar... Nem sei se seriam coisas novas, mas, fundamentalmente, uma visão sobre essas questões relacionadas com política informada por evidências. Está ótimo. Obrigadão Jorge! Tchau! >> Obrigado, Thaís! Tchau! [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]