[MÚSICA] Entender o mundo e os seres que nele habitam sempre desafiou o pensamento humano. Inicialmente as explicações resumiam-se a crenças e mitos. Entre os séculos VII e V antes de Cristo, os filósofos gregos pré-socráticos foram substituindo os mitos pela razão. Buscavam princípio material ordenador do universo, como a água, ar, fogo, sementes ou o átomo. Com Sócrates, a Filosofia ganha contornos humanos e espirituais; com Platão, morais; e com Aristóteles, a reflexão e o cunho científico. Estas ideias abriram o caminho para o Materialismo, que é a corrente de pensamento que afirma a precedência da matéria sobre o espírito ou a mente e que é a base de várias escolas filosóficas, desde os antigos gregos até a nossa época. No século XVIII, essa visão materialista e científica muda a interpretação da diversidade biológica. Para Bonnet, Leclerc e Linnaeus, a criação da vida era divina, mas as espécies podiam ser modificadas pelo ambiente. Para Lamarck, as linhagens surgiam por geração espontânea e evoluíam para maior complexidade, de acordo com a necessidade de usar ou não estruturas. Para Darwin, todas as linhagens vivas ou extintas descendiam de único ancestral e ficaram distintas como o resultado do acúmulo de modificações ao longo do tempo, resposta à ação do meio. Essas ideias formam a base da teoria sintética da evolução, pilar da evolução biológica moderna. Mas se é assim, onde estão as evidências? Vejamos: primeiro, fósseis, restos ou vestígios de atividade de organismos que viveram no passado e que foram preservados no tempo. Organismo morto é rapidamente recoberto por sedimento que, ao petrificar, preserva a impressão ou partes do corpo na rocha. Temos fósseis onde nada resta do organismo original e outros onde ainda há parte da matéria original. Na concha desse trilobita de 400 milhões de anos o carbonato de cálcio ainda é o do animal. O problema é que muito pouco foi fossilizado: menos de 1%. Mesmo assim, alguns locais existem verdadeiras janelas para a vida do passado, preservações excepcionais, como no Folhelho de Burgess no Canadá, com rochas de 505 milhões de anos e no sítio de Liaoning na China, com fósseis de 125 milhões de anos. Dois: estruturas homólogas, têm origem embrionária semelhante herdada de ancestral comum. Vejam os membros anteriores de humanos, cavalos, baleias e morcegos. Apesar das funções, tamanhos e formas serem diferentes, ossos e músculos se correspondem e mostram que já existiam no ancestral. Três: estruturas convergentes, são semelhantes mas não têm ancestral comum. Vejam o petauro do açúcar, mamífero marsupial, e o esquilo voador, mamífero placentário, ambos têm membranas voadoras, mas sem ancestral comum. Quatro: órgãos vestigiais. Órgãos que tiveram função no ancestral, mas nos descendentes o tamanho foi reduzido e a função, perdida. Veja vestígio de membros posteriores na jiboia, sugerindo que o ancestral tinha pernas. Cinco: informações moleculares. Como imaginaríamos que os mesmos genes que formam o corpo de inseto também controlassem o desenvolvimento do nosso organismo? Então, estudos revelaram que, apesar das enormes diferenças na forma e no funcionamento, todos os animais complexos, de moscas a homens, compartilham kit de ferramentas comum, com genes mestres que regulam a formação e diferenciação de seus corpos. Então, como surgiriam as diferenças? É que o importante não é o kit de ferramentas e sim como as ferramentas são usadas. A construção das formas depende da ativação ou desativação de genes reguladores diferentes momentos e posições no desenvolvimento embrionário. As mudanças surgem de alterações nesses genes ou momentos. A descoberta desse kit ancestral de ferramentas genéticas é uma evidência irrefutável da origem e modificação dos organismos a partir de ancestral comum. Seis: similaridade embrionária. Quanto maior o grau de parentesco, mais semelhantes são os desenvolvimentos embrionários. Aqui vemos vários embriões de organismos diferentes. No início, todos compartilham muitas características. Estados tardios surgem as características que os diferem. Sete: evidência biogeográfica. As espécies próximas parentesco que vivem locais distantes na terra são explicadas pela movimentação das placas tectônicas sobre o manto. Oito: sequenciamento de proteínas. As proteínas diferem mais entre espécies com relação distante. Por exemplo, há pouca diferença entre a nossa hemoglobina e a dos chipanzés, mas entre a nossa e a dos tubarões a diferença é de 79%, o que mostra uma divergência de 400 milhões de anos ou mais. Hoje os cientistas interessados nas relações de parentesco e na árvore da vida baseiam-se num método criado por Willihennig, que usa o conceito de sinapomorfia, que é similar à homologia, ou seja, qualquer estrutura que compartilha padrão fundamental comum devido à ancestralidade. A técnica utilizada é chamada cladística ou sistemática filogenética. É simples, e o uso de computadores facilitou muito a análise do que chamamos de matriz de caracteres, que nada mais é do que grande resumo das observações feitas. Uma lista de espécies de interesse, codificam-se as características usando 1 para a presença e 0 para a ausência. No exemplo analisamos 2 características: dedos nas patas e antenas e comparamos com grupo externo anterior. Podemos ver que a, b e c possuem antenas, portanto essa é uma característica que provavelmente surgiu antes de dedos nas patas, formando a possível árvore filogenética. A análise da matriz e métodos estatísticos avaliam quais árvores explicam melhor os dados e, quando publicadas, podem ser repetidas, analisadas e confirmadas ou não por outros cientistas. Pois é, entender o nosso presente e investigar o nosso passado é uma tarefa complicada e difícil e a história da classificação dos seres vivos mostra isso. Observem que o avanço da classificação biológica acompanhou a tecnologia e o conhecimento. De Aristóteles a Linnaeus, 2 grupos: reinos vegetal e animal. Haeckel inclui os microorganismos: 3 grupos. Copeland separa monera por não terem núcleo organizado: 4 grupos. E o Whitacker inclui fungos: 5 grupos. Finalmente, sob a influência da escola cladística, Margulis e Karlene propõem 5 reinos, mas monera separam eubactéria de arquea e Woese, com a análise de RNA, coloca uma categoria superior a reino, o domínio. Propõe 3 domínios: eucária, organismos com núcleo organizado, e divide procariontes, sem núcleo organizado, 2 outros domínios: arquea e bactéria. Bom, de tudo isso, chegamos então a 2 conclusões: a primeira, de que todas as formas de vida estão relacionadas entre si, menor ou maior grau de parentesco e descendem de uma única forma de vida ancestral; e a segunda, uma questão: se os organismos que conhecemos são o resultado de modificações de ancestral comum, como surgiu esse ancestral? Como surgiu a primeira forma de vida? [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [SEM ÁUDIO]