[MÚSICA] "Eu preferia ser descendente de macaco do que de bispo." É o que teria dito o anatomista Thomas Huxley durante seu debate com Samuel Wilberforce, bispo de Oxford, durante o encontro da British Association Oxford, 30 de junho de 1860. O debate foi confronto entre o criacionismo e a teoria da evolução e o bispo Wilberforce sofreu uma derrota vergonhosa. Ocorre que a lenda, tanto da frase, como da vitória esmagadora de Huxley, foi construída três décadas depois do debate. Segundo levantamentos estereográficos, o bispo colocou série de objeções à teoria da evolução dentro de quadro racional que pode ser chamado de criacionismo clássico. O ponto principal da argumentação do bispo Wilberforce se refere à transformação de uma espécie outra. Wilberforce aponta a ausência no registro geológico de qualquer caso de uma espécie se transformando outra. Darwin já havia vislumbrado esta dificuldade e a contornou evocando a extrema imperfeição do registro geológico. Contudo, o cerne do raciocínio de Wilberforce está na suposição da fixidez das espécies, o que decorre do "iii" legítima de uma teoria de tipos fixos, comum a vários campos e pensamento daquela época. Dentro do cenário dos tipos fixos, numa herança do aristotelismo, não se podia pensar origem das espécies de modo gradual, como exigida pela pressão evolutiva da seleção natural. Já o surgimento abrupto de espécies do criacionismo clássico é consistente com os tipos fixos. Uma objeção de Wilberforce à teoria da evolução é que as pressões seletivas teriam efeito sobre as espécies no sentido de promover a sua extinção, mas não poderiam ser a causa da transformação de uma espécie outra. O próprio Darwin reconhecia essa dificuldade sua teoria. Faltava na época de Darwin uma fundamentação da definição de espécies termos de genes e o processo de mutação, transformando os próprios genes. Já o criacionismo clássico era compatível com a química do século XIX, que desde Lavoisier, no século XVIII, havia rejeitado a ideia de transmutação de elemento outro, apregoada pelos alquimistas. Os elementos da química do século XIX são fixos como os tipos aristotélicos e as espécies do criacionismo. A noção de transmutação de elementos só retornaria 1901, com a descoberta por Frederick Soddy e Ernest Rutherford de que o tório se transformava rádio. Outra objeção de Wilberforce era que não havia evidência ao longo da história humana do desenvolvimento de novas espécies. Atualmente se conhecem essas evidências, mas não eram claras na época do debate. Darwin já havia percebido que o lento processo de especiação da sua teoria da evolução demandava muitos milhões de anos. No século XIX, os geólogos já haviam estimado que as formações geológicas, geral, tinham vários milhões de anos. Na primeira edição da Origem das Espécies, de 1859, ele, através do cálculo da taxa de desgaste do Weald, grande vale no sul da Inglaterra, determinou uma idade de 300 milhões de anos para esta formação, implicando uma idade mínima para a Terra. O problema é que essa também seria uma idade mínima para o sol. E de onde vem a energia que mantém o sol brilhando? Na época da publicação da Origem das Espécies, William Thomson, que depois se tornaria Lorde Kelvin, atacou violentamente estimativa de 300 milhões de anos para o desnudamento do Weald. A ciência da termodinâmica, da qual ele era uma das maiores figuras, estimava uma idade de 20 milhões de anos para o sol, graças à conversão de energia gravitacional e calor. A energia gravitacional poderia vir tanto da queda de meteoros sobre o sol, como da lenta contração do sol. A fúria de Kelvin contra Darwin foi tão devastadora, que Darwin eliminou o cálculo da idade do Weald nas edições posteriores da Origem das Espécies. No final, quem estava certo era Darwin, mas só se soube após a sua morte. A física do século XIX é que estava incompleta. A descoberta da radioatividade 1898 revelou uma fonte suspeita de energia para o sol, a nuclear, que permitiria que ele brilhasse por bilhões de anos. 1860, o debate Huxley-Wilberforce foi conduzido bases racionais, com bons argumentos por parte do defensor do criacionismo clássico. Contudo, este já não é o caso de uma nova modalidade de criacionismo que nasceu no século XX, o criacionismo fundamentalista. Este tem origem no protestantismo conservador e ultracapitalista americano. O nome fundamentalista vem de uma série de 12 panfletos, "The Fundamentals", publicados entre 1910 e 1915, pelos magnatas do petróleo Lyman e Milton Stewart. Três milhões de exemplares de cada panfleto foram enviados para pastores e professores de Teologia dos Estados Unidos. "The Fundamentals" atacava a teoria darwiniana como sendo uma grave ameaça à religião. O fundamentalismo ganhou tanta força entre os conservadores americanos, que logo surgiram projetos de lei proibindo o ensino da teoria darwiniana vários estados: Arkansas, Flórida, Mississippi, Louisiana. No Tennessee, 1925, o jovem professor John Scopes foi condenado por ensinar a teoria da evolução na aula da Biologia. A condenação de Scopes levou a imprensa americana a transformá-lo herói da ciência e a denunciar o obscurantismo do fundamentalismo. Contudo, os fundamentalistas continuaram fortes. Quando damos uma busca na Internet com "teoria da evolução", a maior parte dos sites para os quais somos dirigidos são mantidos por criacionistas fundamentalistas. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]