[MÚSICA] [MÚSICA] Desse modo, temos então primeiro fator extremamente relevante para entender a decisão de consumo das famílias, que é a disponibilidade de renda, ou seja, a renda que sobra para as famílias depois de pagos os tributos ao Governo, a renda disponível. Desta renda disponível, novamente, teremos as famílias consumindo uma parcela e este processo dinâmico entre a relação da renda disponível com o consumo vai nos levar ao multiplicador keynesiano. Muito bem. Porém, esse não é o único fator que afeta a decisão de consumo das famílias. As teorias mais modernas de consumo nos levam a entender o efeito da taxa de juros sobre a decisão de consumo. E aí, neste caso, estamos considerando que as famílias levem conta não só o consumo no momento presente, mas também o consumo futuro. Deste ponto de vista, nós podemos entender a poupança do momento presente como sendo a fonte para propiciar o consumo no futuro. Então, quando nós dissemos que as famílias decidem entre consumir e poupar, a parcela dedicada à poupança, na verdade, pode ser compreendida como uma parcela que está associada à decisão de consumir no futuro. Mas o que leva uma família a decidir consumir no futuro e não no presente? O que leva a tomar essa decisão é como ela será remunerada pela sua poupança. Muito bem, então vejamos que aqui já começamos a identificar uma conexão entre o mercado de bens e serviços e os mercados financeiros. Por que? A maneira como a família será remunerada pela sua poupança está associada a formação da taxa de juros nos mercados financeiros. A parcela da renda não consumida atualmente vai propiciar à família que haja mais consumo no futuro. Qual é esse mecanismo? Esse mecanismo, como já dissemos, está exatamente expresso nas taxas de juros dos mercados financeiros. Significa que ao decidir poupar, a família guardará uma parcela da sua renda hoje e usufruirá dessa renda no futuro. A partir do momento que a decisão de não consumir e de poupar é poupada, a família está levando conta como ela será remunerada pela sua poupança, ou seja, como ela poderá consumir no futuro. Será que ela poderá consumir mais no futuro do que ela consumiria hoje, com a renda hoje? A resposta é sim. Por que? Porque a renda no futuro será valorizada, ou seja, ela receberá uma remuneração, ela receberá uma taxa de juros, ela receberá retorno positivo, de tal forma que no futuro a família possa consumir mais do que ela consumiria hoje se ela decidisse gastar a sua renda hoje. Então, nós estamos observando que a taxa de juros, aquela que vai ser a referência e vai formar todas as taxas de juros dos mercados financeiros, ela é fator extremamente relevante para a decisão de consumo das famílias. Nós estamos identificando, então, dois fatores importantes para a decisão de consumo das famílias. O primeiro deles é a renda disponível, que propicia o elemento dinâmico do multiplicador keynesiano que já tratamos. E agora, estamos observando que a taxa de juros também é elemento relevante na decisão de consumo ao longo do tempo. Nós chamamos de decisão de consumo intertemporal das famílias. Ao longo do tempo, taxas de juros mais elevadas incentivam as famílias a pouparem mais do que consumirem. Por que? Porque se a taxa de juros se eleva, a poupança que a família decide fazer hoje valerá mais amanhã e propiciará mais consumo amanhã. Percebem? Então, nós temos aqui uma explicação mais moderna e mais atual da decisão de consumo das famílias, que leva conta não só a decisão do momento corrente, que depende da renda disponível, mas também a decisão de consumo de todos os períodos de hoje para o futuro que essa família terá que tomar e terá que reavaliar a sua decisão entre consumir e poupar ao longo do tempo. Portanto, quanto maior a taxa de juros, quanto mais elas forem remuneradas pela sua poupança, será, então, incentivo para que as famílias consumam menos hoje e poupem mais para consumir mais amanhã. Dois fatores extremamentes relevantes para entendermos a lógica da decisão de consumo. Então, vejam que quanto maior a renda disponível, mais as famílias consomem e maior o efeito multiplicador propiciado pela propensão marginal a consumir. Quanto maior a taxa de juros, as famílias decidem consumir menos hoje, poupar mais e assim terem a possibilidade de consumir mais ao longo dos períodos futuros com a renda adicional da taxa de juros sobre a poupança do momento presente. Então vejam, a explicação genérica, geral, mais relevante para a função consumo, ou seja, para a decisão de consumo das famílias está associado a esses dois fatores fundamentais. Deles, multiplicador keynesiano, se expressa fortemente na relação do consumo com a renda disponível e o outro conecta a decisão de consumir, de dispender no momento presente aos momentos futuros por meio das taxas de juros. Então, a conexão dos mercados de bens e serviços e mercados financeiros começam a ficar desenhada na nossa estrutura lógica da macroeconomia. Então, como nós acabamos de ver, o consumo das famílias tem esses dois fatores fundamentais que vão nos ajudar a entender como e porque as famílias tomam a decisão de consumir. O primeiro deles, a renda disponível, o segundo deles, a taxa de juros, o custo de oportunidade que as famílias têm na sua relação entre o consumo presente e o consumo futuro. É muito importante observar que nesta decisão entre o consumo presente e o consumo futuro, outro elemento da ordem das preferências das famílias é muito relevante. Este outro elemento diz respeito a impaciência que as famílias apresentam relação ao consumo. As famílias e os agentes na economia, expressam a sua impaciência relação ao consumo quando decidem descontar renda futura para consumir hoje. Então, quanto mais os agentes utilizam crédito para financiar o seu consumo, isso nos dá uma indicação de que a preferência por consumir hoje e não consumir amanhã é maior do que a remuneração que eles receberiam para deixar de consumir hoje, ou seja, poupar e consumir mais amanhã. Então, é muito importante que sempre a gente leva conta, e sempre estejamos alertas, para compreendermos melhor as decisões de consumo, que essas decisões estão influenciadas e estão associadas às características de impaciência relação ao consumo que famílias diferentes apresentam. Então, para dar exemplo muito simples, muitas vezes nós nos perguntamos porquê que as famílias compram bens financiados com taxas de juros muito elevadas mais ainda sim tomam a decisão de obter o bem e consumir o bem no presente. Certamente é porque a impaciência relação ao consumo, ou seja, a taxa intertemporal de preferência dessas famílias é mais elevada do que o custo de oportunidade, que é a taxa de juros que o mercado financeiro vai oferecer pela poupança dessa família. Então, é bastante comum, ou seja, não é nada surpreendente que certas famílias antecipem o seu consumo utilizando... ...o mercado de crédito, mesmo quando as taxas de juros estão muito elevadas. Isso significa que essas famílias apresentam uma impaciência relação ao consumo maior do que as demais famílias. Então, é perfeitamente possível e compreensível a partir da teoria econômica da tomada de decisão que famílias tomem esse tipo de atitude. Além desses fatores que nós estamos ressaltando, é importante também chamar a atenção para o fator expectativas. As expectativas que as famílias têm relação à sua capacidade de gerar renda no futuro, relação às condições da economia no futuro, relação às condições das taxas de juros no futuro. Essas expectativas afetarão a decisão das famílias hoje. Portanto, muitas vezes, nós observamos que as economias, e no caso, especificamente a economia brasileira apresenta comportamento de consumo das famílias que não necessariamente está refletindo a renda disponível ou a taxa de juros de hoje, mas está refletindo aquilo que as famílias esperam que aconteça com a renda no futuro e com a taxa de juros no futuro. As expectativas são elemento fundamental na decisão dos agentes e não é diferente relação à decisão das famílias sobre consumir e poupar, ou seja, sobre consumir hoje ou consumir amanhã. Além dos elementos que a gente já destacou, precisamos levar conta também os aspectos associados à expectativa das famílias relação ao comportamento dessas variáveis no futuro. É bastante comum observarmos nas economias e, muitas economias, inclusive a brasileira, produzem, têm indicadores de confiança do consumidor. O que é que esses indicadores tentam captar? Esses indicadores tentam captar exatamente a sensação, as expectativas das famílias relação ao futuro das suas próprias rendas, da economia, das taxas de juros, da remuneração dos seus ativos financeiros como a poupança. Portanto, esses indicadores de confiança do consumidor, de certa forma, vão revelando para nós, vão-nos dando informações sobre as expectativas dos agentes e, muitas vezes, os agentes estão pessimistas, as famílias estão pessimistas relação ao futuro da economia, por exemplo, por questões que podem estar associadas ou ao resto do mundo ou ao cenário político doméstico, uma crise política que esteja afetando a economia e as famílias podem acreditar que esta crise vá se estender por período longo e, portanto, as suas expectativas relação ao futuro levam as famílias a consumirem menos hoje. Percebem? Então, é importante que nós sempre consideremos o efeito daquilo que as famílias esperam que aconteça sobre a sua decisão de consumo hoje. Então, se nós quisermos sintetizar os principais elementos que vão determinar o consumo das famílias, nós podemos, recapitulando, começar com a renda disponível, aquela renda que sobra após o pagamento dos tributos para o governo, a taxa de juros contraposição à impaciência das famílias relação ao consumo futuro. Então, renda disponível, taxa de juros, e as expectativas das famílias relação ao comportamento das variáveis que afetam a sua decisão de consumir hoje. Tudo bem? Então, é desta forma que nós podemos apresentar de uma maneira sintética e bastante completa a decisão de consumo das famílias de uma perspectiva bastante moderna. Ou seja, de uma perspectiva muito semelhante à maneira como as modernas teorias de análise macroeconômica consideram os seus modelos dinâmicos de equilíbrio geral. Vamos juntos? O próximo passo será entender como se dá a decisão de investimento produtivo. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]