[MÚSICA] [MÚSICA] Nesse contexto de escolhas de regime cambial, nós passamos agora a centrar o nosso foco de compreensão no mercado monetário, propriamente dito, e na gestão da política monetário; pensando já contexto de metas de inflação. Então, pensando que como pré requisitos para essa gestão, nós temos uma autoridade fiscal, uma gestão fiscal que não imponha nenhum condicionante sobre a gestão da política monetária; e uma gestão cambial, ou seja, uma escolha de regime cambial flexível, que, também, não imponha nenhum tipo de limitação sobre a gestão da política monetária. Nesse contexto, nós vamos olhar para o mercado monetário que é o mercado que a gestão da política monetária é realizada. E é mercado constituído, tipicamente, pelos ativos: moeda, sobre o qual nós já falamos; também, títulos públicos de curto prazo; e, dependendo da estrutura, da forma, como se organizou o mercado monetário, naquela economia que nós estamos estudando, o mercado de reservas bancárias também tem papel bastante relevante. Sinteticamente falando, nós vamos aqui manter o nosso foco na conexão entre títulos e moedas, que é aquilo que representa, de maneira mais simplificada, o funcionamento da gestão da política monetária, no caso, brasileiro, que, digamos, é o nosso caso de interesse imediato. Mas também serve para analisar qualquer outra economia, ou seja, são conexões teóricas da estrutura do mercado monetário; e que nos permitirão entender a gestão da política monetária. Então, basicamente, nós temos, nesse mercado, dois ativos. Nós já falamos sobre isso quando tratamos da estrutura mais geral e completa dos mercados financeiros. Mas vou reforçar aqui novamente. Estou falando, especificamente, do fato de que quando nós olhamos para macroeconomia, quando nós pensamos termos agregados, os ativos financeiros que são ativos para alguns agentes privados e passivos para outros; eles colidem, ou seja, quando nós agregamos, eles não aparecem no nível agregado. Só aparecem ativos que são negociados entre tipos de agentes que estão separados na macroeconomia. Esses tipos de agentes são governo de lado e público do outro. Portanto, os ativos que são negociados entre esses dois tipos de agentes são: moeda e títulos públicos do governo. Títulos públicos de curto e curtíssimo prazo. Estamos falando, aqui, do mercado monetário. Então, estamos falando de títulos de vencimento de até ano e que, normalmente, são negociados na gestão da política monetária com compromisso de recompra ou de revenda. Então, normalmente, são operações que duram dois, três, dia; e isso vai levando à formação da taxa básica de juros no dia a dia, ao longo do tempo. Então, a política monetária está associada à gestão, operação de compra e venda de títulos, mercado secundário, realizada pelos 'dealers', pelas instituições financeiras credenciadas pelo banco central para atuar seu nome e fazer as ofertas de compra e venda nesses mercados. Do ponto de vista prático, sempre tem essa intermediação, por 'dealer'. Do ponto de vista teórica, a gente, de maneira simplificada, sempre faz referência a banco central comprando ou vendendo títulos nos mercados de títulos públicos. Mas quando a gente olha para o mundo real, é sempre bom a gente entender o processo como ele se dá na prática. Então, desse ponto de vista, nós vamos ter sempre à disposição para os agentes - no nível agregado da macroeconomia estática, sem considerar a passagem do tempo- dois ativos para que eles possam alocar o seu portfólio. Moeda e títulos públicos. Como é que se dá a relação entre esses dois ativos? A relação entre esses dois ativos é sempre analisada do ponto de vista da alocação de carteira, da locação de portfólio. O que significa que os agentes têm certo montante de riqueza - e riqueza é o estoque da poupança ao longo do tempo, como a gente já alertou quando analisamos o mercado de bens e serviços- então, dado estoque de riqueza, os agentes decidem qual percentual, desse estoque de riqueza, vai ser mantido na forma de títulos, e qual vai ser mantido na forma de moeda. Uma pergunta que logo surge de cara quando a gente pensa alocar uma carteira entre moeda e títulos é a seguinte. Mas se moeda, necessariamente, é ativo financeiro que não paga nenhum tipo de remuneração e que, ainda por cima, tem uma perda do seu poder de compra dada pela evolução da inflação. Por que cargas d'água as pessoas gostariam de manter moeda no seu portfólio? O que leva os agentes a demandar moeda na economia? Então, veja que para entender a lógica da gestão da política monetária, nós precisamos entender por que os agentes demandam moeda. E mais, precisamos entender pouco do processo de oferta de moeda na economia. Quais são os agentes que afetam esse processo e qual é o papel, primordial, do banco central no processo de oferta de moeda. Então, esses dois aspectos. Como e por quê? A moeda é demandada. E como e por quê? A moeda é ofertada uma economia. São essenciais para discussão de política monetária e para a discussão de taxa de juros uma economia. Nesse ponto, é interessante a gente observar, antes mesmo de detalharmos com maior profundidade essas decisões de oferta e de demanda por moeda, é interessante nós observarmos que toda vez que os agentes quiserem mais moeda do que o que tem disponível. Qual é a possibilidade? Qual é a alternativa que pode produzir mais moeda para agente que deseja mais moeda e que tem moeda, e títulos, no seu portfólio? A alternativa natural é que este agente vá ao mercado de títulos e oferte títulos, desfaça-se dos títulos que estão na sua carteira. Fazendo uma operação de oferta de títulos no mercado de títulos. Então, este ponto é importante para que a gente compreenda a conexão entre, o que acontece no mercado de moeda e o que acontece no mercado de títulos de curto prazo, que é o outro ativo do mercado monetário. Então, toda vez que há- por algum motivo que não estamos detalhando- excesso de demanda por moeda, por exemplo, necessariamente, há uma contrapartida de excesso de oferta de títulos no mercado de títulos. E o contrário também é verdadeiro. Toda vez que há excesso de oferta de moeda no mercado de moedas, ou seja, mais moeda circulação do que aquilo que os agentes desejam, do que aquilo que os agentes demandam. O quê que eles vão fazer com essa moeda excesso? Comprar títulos. Demandar, desejar mais títulos, aumentar a demanda por títulos no mercado de títulos. Então, o excesso de oferta de moeda corresponde, necessariamente, a excesso de demanda por títulos. E isso não é nenhuma lei, nenhuma mágica. É simplesmente processo de decisão de alocação de portfólio. De colocar estoque de riqueza entre uma parte títulos e uma parte moedas. Se eu quero mais moeda, eu quero menos títulos; se eu quero mais títulos, eu quero menos moeda. Então, esse processo de reorganizar o seu portfólio, de decidir como alocar a sua riqueza, pensando só estritamente nesses dois ativos que são os ativos relevantes nível agregado curto prazo. É o que vai produzir uma conexão entre a moeda circulação e a formação da taxa básica de juros na economia. Então, fiquem sempre atentos porque esse movimento de realocação de portfólio é o que vai produzir a conexão entre esses dois mercados do segmento Mercado Monetário. [MÚSICA] [MÚSICA] É exatamente no mercado de títulos que a taxa de juros da economia se formará. No caso, estamos falando da taxa básica de juros, ou seja, a taxa de juros de prazo mais curto e portanto com o menor risco possível porque é a taxa de juro associada a títulos emitidos pelo agente de menor risco na economia que é o governo, como já falamos lá quando discutimos o mercado de capitais. Estão lembrados? Lá nós tínhamos o que? Títulos de médio-longo prazo. Aqui nós temos títulos de curto prazo e operações de curtíssimo prazo na gestão da política monetária. Como era mesmo a nossa idéia principal? O título é ativo financeiro que tem que características? Ele pode oferecer o pagamento de cupom ou não. Quando o título não oferece o pagamento de cupom ele é chamado de título descontado. Ou seja, título que sempre será vendido no mercado a preço inferior ao seu valor de face. E é nessa diferença que está o retorno desse título, que está a taxa de juros desse título se ele estiver sendo avaliado no momento inicial do seu fluxo de caixa. A mesma coisa vai acontecer para títulos que oferecem cupom. Cupons são parcelas, são pagamentos que ocorrem períodos de tempo específicos, normalmente semestrais, trimestrais ou anuais e que revertem pro comprador do título, pro detentor do título, fluxo de caixa, ou seja, uma parcela de pagamento até o prazo de vencimento ou a maturidade do título. Isso significa então realizar uma avaliação deste ativo financeiro relativamente simples que é comparar levando conta a passagem do tempo qual é este fluxo de pagamento, ou seja, que cupom é esse e qual é o montante inicial tomado, emprestado, tomado como recurso como contrapartida deste título que, geral, é o valor de face igual a 1000 unidades monetárias. Este valor de face contratado. Contratado não. Minto. Negociado hoje por meio da compra e da venda deste título, ele vai produzir o que? Ele vai produzir fluxo de caixa que serão os pagamentos de cupom ao longo do tempo e ao final do prazo de vencimento deste título este valor será devolvido para o ofertante de recursos no mercado que é o investidor financeiro. Portanto, o emissor do título, no caso o governo, ele está se comprometendo com o pagamento desse fluxo de caixa com a devolução do principal ao final do prazo de vencimento deste título. Para que nós saibamos qual é a atratividade deste título, nós precisamos de algumas informações. Uma delas é o prazo de vencimento outra é qual é a composição do cupom. Se o cupom é pré-fixado, pós-fixado. Se o cupom leva conta alguma indexação. Se ele acompanha, por exemplo, índice de preços. Se ele acompanha o câmbio. Nós temos uma diversidade razoável de combinações dessas informações. Estamos aqui falando basicamente de títulos de vencimento de até ano. Ou seja, prazo de maturidade de até ano. E neste caso, nós temos normalmente característica de título descontado. Embora seja possível que haja pagamento de cupom semestral, por exemplo. Dois períodos aí dentro de ano. E nós estamos interessados saber qual é a atratividade desse título do ponto de vista do seu retorno. Quando nós falamos retorno nós precisamos tomar bastante cuidado com esse termo. Especificamente, quando eu no momento inicial do fluxo de caixa calculo qual é a taxa que traz o fluxo de caixa deste título ao valor presente igualado ao preço que eu paguei pelo título hoje, eu estou fazendo uma conta relativamente simples que é a taxa interna de retorno desse fluxo de caixa. Vou deixar alguns exemplos pra vocês nas leituras sobre esta aula. Porém, o mais importante que nós fixemos aqui é o fato de que esta taxa interna de retorno que é a medida, que é o conceito de taxa de juros na economia. Quando nós falamos taxas de juros nós estamos falando da remuneração de ativo específico que é título. E no caso, a taxa básica de juros refere se a taxa interna de retorno de título de até ano de prazo de maturidade. Então nada mais é do que a taxa interna de retorno do fluxo de caixa prometido pelo título que está sendo negociado. É importante que a gente observe que este conceito é válido pra títulos de qualquer prazo de maturidade e emitido por qualquer emissor, certo? Então o conceito genérico taxa de juros sempre se referem a remuneração de títulos de diversos prazos. No caso da política monetária, reforço, estamos falando de títulos públicos de prazo de maturidade curta, de até ano. Então basicamente quando nós falamos de taxa de juros nós estamos falando da taxa interna de retorno desse fluxo de caixa. Observem, e isso é conceito, conhecimento fundamental, que o preço negociado deste ativo hoje ele vai guardar uma relação inversa com a taxa de juros do ativo. Como é que é? Pera aí. Vamos lá. Será de uma forma muito simples. Ativo que tenha cupom, uma taxa de cupom de 10 por cento, ou seja, ele vai pagar fluxo de 100 reais a cada ano. Para ficar mais fácil a conta, não é? Anualmente fluxo de 100 reais e ao final de 5 anos este ativo vai devolver, ou seja, o emissor do título vai devolver pro comprador deste títulos 1000 reais mais o último cupom de 100 reais. Então se nós fizermos essa conta nós vamos ter a cada ano fluxo de caixa de 100 e no quinto ano, na verdade, fluxo de caixa de 1100. Pergunta muito simples. Qual é a taxa de juro desse título se ele foi vendido hoje, no momento presente, mercado por 1000 reais? Poxa, significa então que eu estou pagando por este ativo hoje 1000 reais pra poder receber 100 reais por ano e os 1000 reais devolvidos lá no final. Se eu fizer a conta da taxa interna de retorno eu vou observar que a taxa de juros desse título é exatamente de 10 porcento que é a taxa de cupom. 100 divido por 1000, 10 por cento. Então é verdade que a taxa de juros é sempre igual a taxa de cupom? Não, não é verdade. Depende do preço ao qual o título está sendo negociado hoje. É por isso que o mercado secundário de títulos que os títulos são comprados e vendidos toda hora fornece uma importante informação sobre o que os agentes esperam que aconteça com o retorno desse título no futuro. Então quando nós observamos a compra e a venda desses títulos, preço vai se formar no mercado de títulos. Se esse preço for menor do que 1000, certamente, não pode ter dúvida, a taxa de juros do títulos vai ser maior que 10 por cento. Ou seja, quando o preço cai, a taxa de juros sobe. E se esse título for negociado hoje no momento inicial do seu fluxo de caixa com o mesmo cupom de 10 por cento, se ele for negociado a mais de 1000 reais? Por preço maior que 1000 reais? Significa necessariamente que a taxa de juros desse título, ou seja, a taxa interna de retorno desse fluxo, aquela taxa que traz a valor presente o fluxo de caixa exatamente igual ao valor do preço negociado hoje, do valor de hoje, essa taxa de juros vai ser menor que 10 por cento. Então significa que toda vez que o preço de título sobe, a taxa de juros dele cai. Toda vez que o preço cai, a taxa de juros sobe. É raciocínio bastante simples e que pode ser comprovado por meio da realização de algumas contas. Vou deixar alguns exercícios para vocês praticarem. Essas contas podem ser feitas simplesmente Excel ou calculadoras financeiras para facilitar pouco a nossa vida. Enfim, esta relação inversa entre o preço do título e a taxa de juros é fundamental pra gente entender como a decisão de vários agentes na economia pode afetar a formação da taxa de juros e qual é o papel do Banco Central na gestão da política monetária que tem como objetivo guiar a formação de uma certa taxa de juros pré-determinada, escolhida pelo próprio Banco Central, mais especificamente pelo comitê de política monetária. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA]