Estamos agora em um momento muito estranho. Será que estamos bloqueados na terceira etapa da integração regional, da integração regional pós-Segunda guerra mundial? Depois do regionalismo tradicional e do neoregionalismo nós estamos agora bloqueados, quando o neoregionalismo não funciona como se esperava e o regionalismo tradicional é cada vez mais difícil. Podemos dizer que encontramos uma verdadeira crise de integração regional e esta crise não só afetou a Europa. É claro que a Europa é mais afetada que todas as outras partes do mundo porque a Europa estava realmente suportando este novo projeto regional e foi desde o primeiro momento o motor desta integração regional, um exemplo para todo o mundo. Mas todos os itens regionais são agora questionados. Por um lado, é questionado através de um tipo principal de crise que nós iremos levar em conta juntos; por outro lado, regionalismo é agora superado pelo transregionalismo e por esta nova visão pela qual é muito mais importante cooperar quando os países compartilham as mesmas visões mesmo que eles não sejam vizinhos do que entre países que são vizinhos mas não estão compartilhando os mesmos valores e as mesmas metas. Esta crise da ordem regional, e integração regional é, antes de tudo, uma crise conceitual. Agora, há uma espécie de anarquia sobre regionalismo, como estamos observando no mundo diferentes tipos de integração regional que não são semelhantes mas às quais são orientadas em direção a diferentes perspectivas. Por exemplo, agora no mundo atual, podemos observar a cooperação interestatal tradicional através, por exemplo, da integração continental. Esta integração não é muito intensa, não é muito importante, é muito mais uma cooperação intergovernamental. É o caso, por exemplo da Organização dos Estados Americanos ou da União Africana, ou a Liga Árabe, é apenas uma cooperação política e uma cooperação limitada que não esta realmente ameaçando as soberanias nacionais. O segundo é um pouco diferente. Ou seja a cooperação interestatal com um objetivo econômico preciso. O que vale por dizer uma integração não política mas disposta a promover uma integração econômica baseada principalmente no comércio e no comércio intra-zona. É o caso por exemplo da SADC, que está crescendo entre os países da África austral. É também o caso do NAFTA na América do Norte. É o caso da SAARC no Sul da Ásia. Todas estas organizações promovem uma cooperação econômica sem realmente estar concentrados na cooperação política e especialmente na integração política. A terceira é uma cooperação inter-estatal que se baseia na economia mas que tem como objetivo transbordar da economia para a política. Este é o caso da União Europeia, que começou com a cooperação econômica e que promove cada vez mais uma cooperação política, com a ideia de que esta cooperação econômica, cada vez mais intensificada, vai mudar da economia à política. E é também o caso de diversas cooperações regionais na América Latina e na América do Sul. E temos também uma quarta categoria, que é bastante diferente de todas as outras, chamada de regionalismo aberto que não é organizado através de instituições, que não tem como alvo superar a soberania nacional, mas sim protegê-la, e está promovendo uma cooperação ativa mas livre, cooperação bilateral dentro da arena. É por exemplo o caso da APEC. É muito difícil agora definir como estes quatro modelos são capazes de coexistir quando eles estão competindo, mas também é muito difícil dizer qual é o vencedor. O primeiro é um modelo antigo e provavelmente não é capaz de se desenvolver agora em um mundo globalizado, mas não fica muito claro se os outros três são realmente eficientes. E este é o meu segundo ponto: além da crise conceptual, uma crise política e social real, está afetando dramaticamente o processo de integração regional. Senhoras e Senhores, eu acho que a integração regional está em crise em todos os lugares ao redor do mundo, e eu vou distinguir entre três dimensões desta crise. A primeira é uma crise institucional. As instituições regionais não funcionam mais, em todos os lugares ao redor do mundo. A segunda crise é uma crise de ordem econômica, ou seja, todas essas organizações regionais não são mais capazes de lidar com a atual crise econômica. E a terceira é uma espécie de renascimento do nacionalismo, o que eu chamaria de um neonacionalismo, o que provavelmente está colapsando, que está atacando o coração do processo da integração regional. Primeiro, observa-se em todos os lugares em todo o mundo um tipo de falha das instituições regionais. Isto é particularmente importante na Europa. Lembre-se que a Europa investiu em suas instituições, mais que os países asiáticos que estavam promovendo mais sua própria integração através da dinâmica econômica e social. Mas a Europa esta provavelmente presa por sua cultura institucional. A União Europeia tenta promover novas instituições, novos tratados estão acontecendo mas não são bem sucedidos. Muitas dessas novas instituições foram ainda rejeitadas pela soberania do povo quando votaram através do <i>referendum</i>, como no caso da França. E isso está provocando na Europa uma falta de confiança entre as pessoas, isto é, uma separação, uma brecha cada vez maior entre as sociedades, sociedades e instituições europeias. Agora instituições europeias Trabalham cada vez mais para si mesmas, para os seus próprios agentes, para os seus próprios atores. E assim esta brecha está impedindo perigosamente o processo de integração regional. Esta separação entre o social e o política é provavelmente a pior das patologias do desenvolvimento político. A segunda crise, agora, está afetando as economias. Você se lembra que a União Europeia foi criada para atingir metas econômicas e para a reconstrução do velho continente. Agora, como a Europa está enfrentando essa crise muito forte, que começou por volta de 2007-2008, observamos que a Europa não é mais capaz de enfrentar crises por uma razão muito simples e que é muito importante do meu ponto de vista: é que a integração europeia foi considerada como um <i>stakeholding</i>, ou seja, uma soma de interesses. Quando o contexto é bom, quando a situação é positiva, este princípio do <i>stakeholding</i> está funcionando e funcionando de forma positiva, mas quando a crise é forte, o princípio não funciona e deve ser substituído por um real colaboração. Mas compartilhar implica questionar a soberania nacional, e agora a Europa está confrontada com esta oposição entre participações sociais e a colaboração. Um <i>stakeholding</i> que é promovido pelas soberanias nacionais, rivalizando as soberanias nacionais e compartilhando o que implica uma espécie de solidariedade, que iria superar a soberania nacional. E o terceiro nível da crise deve ser encontrado neste novo nacionalismo que agora está crescendo em todos os países europeus. Em uma pesquisa feita recentemente pelo Eurobarômetro em Maio de 2014, 59% dos cidadãos europeus não confiam na Europa. E eles são 81% na Grécia precisamente onde a crise econômica é grave. E eles são 67% em Espanha e até mesmo 59% na Alemanha. E é por isso que, esta brecha entre a opinião pública e as instituições europeias cria uma espécie de novo retorno para as nações que estão alimentando esta estratégia de parasitismo entre os governos europeus que estão, cada vez mais, interpretando seu próprio jogo. E isso também está resultando em um novo soberanismo em que a integração regional não é mais concebida como uma solução, mas é cada vez mais arquitetado como uma espécie de bode expiatório para levar em conta todas as falhas e dificuldades conhecidas pelas pessoas e pela opinião pública. Senhoras e Senhores, Nos não sabemos como o futuro será, mas estamos agora em um momento crucial: ou as pessoas no mundo são capazes de inventar um novo tipo de integração regional para superar esta crise, ou elas não são capazes de fazer isso, e vão refugiar-se ou neste transregionalismo que eu mencionei ou em um novo nacionalismo, o que é provavelmente a principal ameaça do mundo, porque não há compatibilidade entre a soberania nacional e uma ordem global. É exatamente o que vamos considerar na próxima palestra.