Vamos mudar agora para a natureza política das identidades. Isto significa dizer que agora a política está de volta. Quando falamos sobre as identidades sentimos que estamos em um novo mundo que é menos político e mais, vamos dizer, <i>identitário</i>. Isto é uma ilusão. “A política está de volta” significa que a política continua moldando, estruturando as identidades e especialmente na arena internacional. Eu mencionei em minha palestra anterior que a identidade era construída, e era particularmente construída, por empreendedores políticos e de identidades. Isso significa que identidades desempenham um papel importante, maior na arena internacional porque as identidades não têm apenas um substrato político, mas são permanentemente manipuladas por estrategistas políticos, isto significa dizer, por atores politicos. Isto significa dizer também que identidades devem ser consideradas como parte de uma expressão política, como parte de uma mobilização política, como parte da estratégia de uma legitimação política. Expressão, mobilização, legitimação os três famos níveis de ação política devem ser considerados em cada nível diferente no qual questões de identidade estão realmente envolvidas. O papel do substrato político para interpretar identidades e a competição entre as identidades é um fator permanente de modelagem e remodelagem do sistema internacional. Vamos considerar, por exemplo, a divisão da Índia. A divisão da Índia foi alcançada, como vocês sabem, em 1947 no momento da independência do ex-Império britânico da Índia, o famoso Raj Índia. Em um primeiro olhar, podemos considerar que esta é uma divisão <i>identitária</i>, que a Identidade desempenhou como tal um papel em moldar, estruturar esses dois Estados chamados Índia e Paquistão. Mas isto é uma ilusão. Seria uma grave ilusão considerar a divisão da Índia como o resultado de duas identidades antagônicas. Se você considerar que, por exemplo, o pai, o pai fundador do Paquistão, Muhammad Ali Jinnah, Muhammad Ali Jinnah era um muçulmano mas ele não era um muçulmano radical, ele não era um fundamentalista. Ele tinha uma visão muito liberal e até mesmo secular do Islã. O homem comia ovos e bacon no café da manhã e também bebia whisky e emancipado de uma visão, de uma visão religiosa do Islã. O problema de Jinnah não era considerar que muçulmanos e hindus não podiam coexistir. Seu problema era considerar muçulmanos como um minoria, como uma minoria dentro do Império indiano, e como tal, muçulmanos não tinham chance para ele em atingir um nível de dominação dentro do novo Estado. E a única chance da população muçulmana governar o Estado seria dividir a Índia entre o Paquistão e a Índia, isto significa dizer, construir as duas famosas nações. Não foi por uma razão religiosa, não foi por uma razão identitária, mas a motivação real deve ser encontrada no estado minoritário dos muçulmanos isto significa dizer, em uma condição política. A condição política é provavelmente um dos principais fatores que devem ser considerados quando tentamos entender essas situações feitas de identidades aparentemente conflitantes. E nós temos também é claro que levar em conta as estratégias dos empreendedores de identidades, quando manipulando, quando instrumentalizando identidades, o empreendedor político de identidade tem uma estratégia política, isto significa dizer que ele está mirando um objetivo político que é geralmente conquistar o poder dentro do sistema político. Portanto essas duas questões que nós temos agora de estabelecer primeiro: quais são os fatores dessas dinâmicas identitárias na ordem mundial? Por que isso é mais ativo em alguns países do que em outros? E a segunda questão: Quais são as razões políticas? Primeiro, quais são os fatores dessa manipulação política das identidades? Por que essa manipulação política é tão alta em alguns países? Eu acho que temos que distinguir quatro fatores. O primeiro seria o colapso ideológico, isto é, o quê nós normalmente chamamos “o fim das ideologias”. Eu não estou seguro de que as ideologias estão terminando, mas meu ponto é dizer que existem algumas situações nas quais ideologias têm papel maior, e esse foi o caso durante a Guerra Fria, por exemplo, a bipolaridade e existem algumas outras situações em que as ideologias estão declinando. Quando as ideologias estão declinando, e esse era o caso após o colapso da bipolaridade, a identidade desempenha o papel do substituto. Quando ideologias não estão mobilizando, por exemplo a Argélia após a independência, a identidade é muito mais capaz, pronta a mobilizar pessoas do que em uma situação na qual a competição é estruturada pela dualidade ou pluralidade de ideologias competidoras. O segundo ponto, o segundo fator será o colapso institucional. Quando o Estado não está mais funcionando, quando as instituições políticas não estão mais funcionando isto é, são menos e menos legítimas, é claro que as pessoas então prontas para ir para uma ideologia cultural para achar uma substituta a essa ausência de instituições políticas e organização política. É por isso que quando o Estado é em colapso; podemos observar essa influência crescente de identidades. A terceira será o colapso do Império nosso mundo é feito de diversos impérios, que geralmente vêm de muito longe, isto é, são muito antigos, são muito fortemente enraizados na história do mundo, eu digo, o Império chinês, Império russo, Império otomano e assim por diante. Quando o Império está declinando, ou até mais, quando ele está em colapso, isso é liberando, emancipando identidades que não estão aptas a se acertarem através de novas nações, e que é a criação de uma competição muito forte, uma competição muito prejudicial entre as identidades. Como se esse fosse o caso na ex-Iugoslávia por exemplo, o caso agora no Cáucaso, ou é ocaso também na Ucrânia, e muitos outros países. Pois sabemos que o colapso do Império russo é um evento muito forte, que está realmente redefinindo o internacional e especialmente o contexto regional. O quarto fator a ser achado é o colapso da integração. Integração quer dizer quando a integração social internacional está baixa, quando indivíduos, quando povos, são determinados por um alto nível de pobreza, baixos níveis de desenvolvimento humano, a reação é normalmente retornar para sua própria identidade e usar isso como um emblema para protestar contra uma situação de baixa integração. Então, fatores ideológicos, fatores institucionais, colapso do Império, colapso da integração, todos esses fatores são muito importantes em nosso mundo presente, estão desempenhando um papel maior para dar, para prover à identidade uma papel muito estruturante no sistema internacional contemporâneo. Quais são os resultados agora? os resultados a serem considerados agora como algo, o que seria muito próximo à anarquia. Tínhamos com a ordem da nação uma coexistência amável ou harmoniosa entre os povos; é claro que, por vezes, essa coexistência movia-se para a guerra, mas no entanto a ordem nacional estava organizando, estava estruturando a arena internacional. As identidades e competição de identidade não resultam realmente em uma nova ordem e esse é o ponto crucial da atual instabilidade internacional. Por várias razões; porque a identidade é feita de comunitarismo e não feita como a nação era, não feita de um programa político, de uma visão política da cidade, da ordem, da ordem política, das instituições políticas e das estruturas políticas. A identidade é um tipo de estratégia de expressar-se contra os outros mas a qual não procura definir uma nova ordem política. O segundo ponto é que a identidade não considera a alteridade. Identidade é, como mencionei, a visão de si mesmo mas não é a visão dos outros e não está definindo a questão de como conviver com os outros. A terceira é evidentemente o risco da transformação da identidade numa identidade radical e numa visão radical de identidade e para radicalismo e fundamentalista. Mas o resultado principal mais perigoso é que identidades não são territorializadas; é impossível imaginar uma cidade harmoniosa, uma cidade homogênea feita de uma identidade. Esta incompatibilidade entre território e identidade é a maior diferença entre identidade e nação. A nação é feita de um território, de um apoio territorial e especialmente, como mencionamos em sua visão política. Mas identidade é feita somente de etnia isto é, de propriedades culturais. Essas propriedades culturais não podem ser transferidas para uma ordem territorial. É por isso que este etnicização do mundo é uma espécie de aporia.