A potência ainda é poderosa? Essa é a questão. Se considerarmos nosso mundo atual, a crise econômica, as dificuldades para encontrar boas soluções e as soluções eficientes para a crise econômica… o poder é poderoso? A derrota americana no Vietnã, o caos no Afeganistão, no Iraque, na Síria, na Líbia… a potência é poderosa? Os impasses no conflito Israelita/Palestino, a potência é poderosa? Todas essas questões demonstram claramente que o poder não está realmente adaptado ao nosso mundo atual, ou melhor, a visão tradicional de poder não está mais adaptada às novas condições da ordem global. Temos que admitir que o poder passou por muitas transformações e precisa encarar novas adaptações que foram bastante difíceis. Vamos observar nossa história recente. Estados foram unificados na arena internacional por pessoas e sociedades. As sociedades, os atores sociais são cada vez mais presentes na arena internacional. O poder é poderoso quando ele precisa encarar as sociedades da mesma forma de quando lidava somente com outros Estados? A visão tradicional do poder está perfeitamente adaptada à competição interestatal, mas estará adaptada às competições entre Estados e sociedades, entre atores estatais e atores não-estatais? Segunda transformação: o crescente papel da cultura. Na arena internacional tradicional durante o século XIX, mas também em grande parte do século XX foi uma arena monocultural em que todos os atores principais estavam compartilhando a mesma cultura. E sobre essa nova arena internacional na qual diferentes atores vindos de diferentes culturas estão competindo? Será então o poder tradicional tão frutífero e tão eficiente, tão poderoso quanto era anteriormente? A terceira transformação: a proliferação dos Estados. Quando a ONU foi criada em 1945 foi criada por 51 Estados, e agora há 193 Estados na ONU. É possível usar poder quando tamanha proliferação cria microestados dos quais a competição não tem o mesmo significado? O poder estaria agora funcionando quando a bipolaridade entrou em colapso? A bipolaridade estava sustentando a visão tradicional de poder, a bipolaridade estava estruturada em volta de dois grandes poderes, duas super potências: os EUA e a URSS. Agora a bipolaridade acabou, estamos em um mundo pós bipolar, e neste mundo pós bipolar é duro e difícil encontrar uma nova hierarquia de poderes, e também definir as regras de uma competição clara entre os Estados que são tão diferentes. No geral, o poder teve que enfrentar a globalização que criou uma nova ordem mundial e a globalização questiona diretamente o conceito tradicional de poder. Primeiro, porque a globalização introduziu a interdependência A interdependência está desenpenhando um papel principal nas relações internacionais e consegue ser o substituto da soberania. A soberania estava mantendo uma competição de poder muito clara, mas e a interdependência? Quando os Estados são cada vez mais interdependentes no nível econômico, no nível cultural e no nível social, o que o poder é capaz de fazer? Essa é a questão. Qual é o status do poder em um mundo de interdependência? O poder ainda estará atuando quando os Estados estão tão interligados com tamanha densidade? Será o poder ainda poderoso quando a soberania está declinando? Será o poder ainda poderoso quando a coerção é cada vez menos eficiente? Como podemos observar, por exemplo, sobre as sanções, quando elas são feitas por Estados poderosos, estas sanções estão agindo contra aqueles que as estão delimitando. Como fica o poder quando temos que encarar um número crescente de atores? O status do poder é evidente quando há um número pequeno de atores competindo, mas e agora que nós temos. não somente 193 atores Estado, mas potencialmente 7 bilhões de indivíduos agindo na arena internacional? Será o poder poderoso quando precisa encarar os indivíduos e os atores sociais? E o que dizer sobre o poder que enfrenta uma nova forma de comunicação, um novo instrumento de comunicação, uma nova tecnologia na qual indivíduos são capazes de entrarem em contato uns com os outros, e, portanto, podem estruturar uma nova forma de relações sociais internacionalmente. O poder provavelmente não se adaptou em sua forma tradicional para encarar essa nova situação, e a verdadeira questão é como será o poder em um mundo onde os Estados não possuem mais o monopólio das funções internacionais? Senhoras e Senhores, quatro consequências destas enormes, mas subestimadas transformações. Primeiro, o poder militar está cada vez mais impotente. Podemos observar isso durante a guera de descolonização, quando a França foi derrotada por um pequeno exército vietinamita em Dien Bien Phu. Mas os EUA experienciaram a mesma situação quando foram derrotados em 1975 no Vietnam, mas o mesmo serve para a Somália, o Afeganistão, o Iraque e assim por diante, e o mesmo para a Líbia. Estará o poder militar adaptado para estas novas condições? Provavelmente não. A segunda questão é: será o soft power um claro e eficiente substituto disso? Quando os EUA foram derrotados no Vietnam alguns estudiosos americanos como Joseph Nye e Robert Keohane elaboraram o conceito de soft power e estabeleceram a hipótese de que quando o hard power não está mais funcionando, o soft power pode ser considerado como um substituto. O soft power é poderoso, provavelmente, por propagar a cultura dominante, a hegemonia cultural de uma super potência. Mas a questão é: se você beber Coca Cola ou se usar jeans azul, você estará, por essa razão, apoiando a política externa Americana? A realidade é que não há transitividade entre o apoio que se dá ao soft power e o suporte que se é esperado no campo da diplomacia e da política externa. A terceira questão é: o que dizer do poder em um mundo no qual o protesto está desempenhando um papel cada vez mais central e fundamental? Há em nosso mundo atual tantas novas diplomacias de protesto ou diplomacias depravadas, nas quais protestar contra uma hegemonia é muito mais importante do que propor uma nova ordem internacional. Será a visão tradicional de poder capaz de encarar essa nova cultura de protesto internacional? Claramente não poderia. Então, o problema real em nosso mundo global e interdependente de hoje é: o que hegemonia significa agora? Robert Gilpin e Charles Kindleberger elaboraram o conceito de estabilidade hegemônica no qual eles dizem que a hegemonia é a única forma de ordem em um mundo interdependente. Isto era provavelmente verdade durante o século XX, ainda assim, é tão clara e óbvia nos dias de hoje? Esse é o problema. Será a hegemonia agora um estabilizador ou estará a hegemonia desestabilizando o mundo? A verdade é que, primeiro, a hegemonia não está funcionando e está falhando, porém o segundo ponto é que quando a hegemonia é muito evidente, é muito visível, há o grande risco de que essa hegemonia crie instabilidade, protestos, conflitos e tensões, anti-americanismo e guerra. É por isso que a administração de Obama se moveu para outro conceito, o famoso conceito de smart power, no qual o hard power é considerado restrito, limitado e que deve ser misturado de forma cautelosa a uma dose de soft power. Esse conceito de « poder esperto » evoca a idéia de uma pegada leve de que agora a superpotência deve deixar apenas uma leve pegada na ordem internacional e ao conceito de liderança por detrás, liderando a partir dos bastidores, isso significa dizer que é muito menos ambicioso na definição da nova ordem internacional. Esse é claramente um conceito revisado de hegemonia no qual a hegemonia é diminuída, no qual a hegemonia é questionada, no qual a hegemonia é desafiada e no qual nós temos que reconsiderar as reais capacidades do poder.