[MÚSICA] [MÚSICA] Olá. Hoje nós vamos falar sobre o tema do trabalho e seus aspectos mais gerais. O início do nosso curso de Introdução à Economia do Trabalho. O trabalho é uma atividade que dá centralidade ao desenvolvimento humano, por isso, o trabalho define a espécie humana, uma vez que é ele que transforma a natureza, altera a individualidade e sobretudo a concepção e estrutura de uma sociedade. As ciências naturais investigam o trabalho nos seus aspectos relacionados à psicologia, à fisiologia, enquanto que as ciências sociais analisam muito mais os aspectos vinculados à organização do trabalho e suas relações sociedade e no sistema produtivo. Essa forma de desenvolvimento do trabalho a partir do tempo é muito importante, pois nos permite compreender a importância temporal do trabalho sociedade. Nós podemos considerar o trabalho através de duas perspectivas, seguindo inclusive a indicação de Hannah Arendt seu livro "A Condição Humana". De lado, o sentido do trabalho mais vinculado à busca pela sobrevivência, o esforço humano para o atendimento das necessidades básicas, mínimas do desenvolvimento humano. Esse trabalho, na maior parte das vezes, é trabalho alienado, trabalho desconectado de uma luta mais geral pela transformação da sociedade. Mas nós temos outro sentido do trabalho, que é o sentido do trabalho criativo, do trabalho que se desenvolve no tempo livre, o trabalho vinculado à convivência humana, ao desenvolvimento, portanto, de condições superiores de convivência sociedade. Esses dois sentidos do trabalho sofreram alterações ao longo do tempo. A divisão social do trabalho sociedade estabeleceu uma relação entre o tempo de trabalho e o tempo de vida. Se nós aqui analisássemos as antigas sociedades agrárias, sociedades longevas que conviveram com mais de 18 séculos, nós perceberíamos que nas sociedades agrárias, viver era fundamentalmente trabalhar. Era a presença do trabalho pela sobrevivência. Poderíamos considerar nas sociedades agrárias, por exemplo, o ingresso, o exercício do trabalho, a partir dos cinco, seis anos de idade. A criança já numa fase tenra de sua vida envolvida na contribuição pela sobrevivência na família mas também, com o passar do tempo, envolvida nas atividades de trabalho no meio agrícola, na pecuária. E esse trabalho ocupava jornadas que, basicamente, diziam respeito à presença da iluminação natural. A partir do nascimento do sol e até à fase que ele se punha, estamos falando de jornadas de dez, a 12, 14 horas, que o trabalho humano era desenvolvido sociedades agrárias, geral de baixa produtividade. Esse trabalho, além de longevo, por jornadas diárias de trabalho, era trabalho exercido de segunda a segunda, sem a presença do descanso semanal, de férias, feriados. E trabalhar também até, praticamente, morrer. Nas sociedades agrárias a expectativa de vida ao redor de 34, 35 anos de vida, significava basicamente o comprometimento de tempo de vida que quatro quintos da vida estavam comprometidos com o trabalho. O trabalho pela sobrevivência. Nas sociedades urbanas industriais com o desenvolvimento do capitalismo industrial, com a mecanização, o trabalho se transforma, se torna praticamente apêndice da máquina. O fantástico filme "Tempos Modernos" de Charles Chaplin dá uma dimensão de como esse trabalho transformado vai estar submetido à ganhos de produtividade muito expressivos. A mecanização, a revolução tecnológica são importantes elementos de ampliação da riqueza mas, ao mesmo tempo, do sofrimento, da intensificação do trabalho. E ao mesmo tempo, o surgimento de sindicatos, partidos políticos, que vão fazer da luta dos trabalhadores prol de jornadas menores, da luta pela libertação desse tempo tão longevo de trabalho, que vinha das sociedades agrárias. A presença do Estado, a luta política, vai permitir que nas sociedades urbanas industriais, não apenas a jornada diária de trabalho se reduza, como também a semanal, para jornadas de 40 a 48 horas semanais, enquanto que nas sociedades agrárias estávamos falando de 60, 70 horas de trabalho. Com jornadas menores também vai permitir, portanto, o trabalhador se libertar do tempo de trabalho, desse trabalho heterônomo, desse trabalho pela sobrevivência, esse trabalho mais alienado. E nesse sentido, também a presença de instituições novas como as aposentadorias e pensões, que vão permitir com que aqueles trabalhadores com mais idade possam se libertar do trabalho, viver fora do mercado de trabalho. Assim como os jovens, as crianças, que entrarão no mercado de trabalho mais tardiamente. É isso que constitui uma sociedade que o trabalho segue sendo central porém, não vai comprometer mais o tempo de vida como nas sociedades antigas, anteriores agrárias. Estamos falando de sociedades no século XX, que o trabalho pela sobrevivência vai consumir a metade do tempo de vida. Também se tratam de sociedades cuja expectativa de vida sai dos 34, 35 anos de idade para uma expectativa média de vida de 60 anos de idade. Nisso, nós temos uma nova perspectiva que é a manutenção da centralidade do trabalho no desenvolvimento humano mas, trabalho menos comprometido com a longevidade e expectativa de vida. Hoje, estamos vivendo uma outra transição, da sociedade urbana industrial para uma nova sociedade de serviços, que vem acompanhada de uma mudança tecnológica, uma revolução tecnológica que produz ganhos de produtividade muito significativos, abrindo portanto oportunidades de novo salto civilizacional, permitindo com esses ganhos de produtividade que as jornadas de trabalho se reduzam. Ao invés de 40, 48 horas semanais, para jornadas de 12 horas, 15 horas semanais, abrindo a possibilidade para que o ingresso no mercado de trabalho não seja aos 14, 15 anos de idade mas o ingresso para depois dos 20 anos. Isso tudo no campo das possibilidades, das hipóteses, porque, na realidade, o que nós estamos vendo é uma situação de aumento do tempo de trabalho, da intensificação do trabalho, pelas condições mais gerais de desenvolvimento da sociedade de serviços que faz com que, apesar do avanço tecnológico, nós tenhamos uma pressão tão grande entre os trabalhadores, por empregos precários, empregos com jornadas maiores, com salários menores e, é nesse contexto que essa transição vem sendo feita. Uma transição que vez de permitir salto civilizacional, estamos percebendo, mesmo nos países desenvolvidos, mais aqui no Brasil, retrocesso termos de condições de vida. Aspecto fundamental dessa perspectiva de longo prazo de entender o trabalho humano é perceber que as transformações do trabalho humano passaram, justamente, pelas lutas, pelos conflitos, pelas pressões dos trabalhadores organizados. Foi justamente a luta de classes que abriu campo novo para que avanços, conquistas, fossem estabelecidas. Direitos trabalhistas, jornadas de trabalho menores, não foram espontâneamente ofertadas pelos patrões, resultou justamente da pressão dos trabalhadores. E é esse o ponto que nos leva a analisar o momento presente e sobretudo futuro da sociedade do trabalho na nossa sociedade aqui no Brasil. Que perspectiva podemos ter relação a essa questão das oportunidades de convivência numa sociedade desenvolvida. Esse trabalho depende da estrutura produtiva do processo de produção e, a forma de organização desse trabalho é dado pela correlação de forças entre trabalhadores e empregadores na sociedade como todo. Esse tema, no nosso dia precisa ser melhor considerado, analisado, mas partindo do pressuposto que é justamente na sociedade do trabalho é que nós temos as oportunidades para construir uma sociedade superior. [MÚSICA] [MÚSICA]