Olá para você que está aí do outro lado. Eu sou Robson Monteiro. Sou estudante de linguística da Unicamp e eu estou aqui com outras três pessoas. A Nataly é historiadora; o Bruno é filósofo e professor de ética; e a professora Cláudia Wanderley que é a coordenadora do grupo de pesquisa que a gente faz parte. O grupo de multilinguismo e interculturalidade no mundo digital. E a gente faz parte da equipe do curso de letramento midiático informacional e diálogo intercultural que a gente desenvolveu parceria com a Unesco. E esse vídeo aqui é basicamente para a gente dar continuidade a uma conversa que a gente iniciou nesse processo de criação do curso. E que após lançado esse curso, a gente pretende abrir questionamentos, debates e diálogos principalmente nessas frentes que a gente tem procurado dialogar e trabalhar. Então, basicamente, a gente vai conversar pouco sobre a nossa experiência na criação desse curso. Pouco sobre alguns questionamentos que a gente tem, principalmente, da conjuntura que a gente vê hoje, porque é difícil a gente falar sobre o que esta acontecendo hoje sem pensar o que aconteceu no passado. Principalmente, no passado do nosso país, no passado Brasil e no passado da América Latina. Então, a gente precisa pensar isso de maneira histórica e esse curso é também uma possibilidade da gente pensar instâncias hegemônicas, por exemplo, que são reflexo no mundo virtual daquilo que a gente tem fisicamente. Então, uma outra possibilidade, outro caminho, que a gente procura nesse curso é de pensar modo de vida, também, que a gente tem e como isso impacta nós mesmos e outros povos. Porque tudo que a gente está vivendo hoje, imagino, é resultado daquilo que a gente foi construindo de maneira coletiva desde o passado e, provavelmente, a gente não está ouvindo pessoas que a gente deveria estar ouvindo de maneira mais efetiva. Porque, de fato, muitas das coisas que estão acontecendo hoje não são boas e elas precisam ser melhoradas. Então, pensar esse curso de letramento midiático é uma forma crítica de levar diálogo com pautas e questionamentos não só no virtual, mas também espaços físicos, nessas instâncias físicas que, muitas vezes, hegemônicas que também são espelho no virtual. Entende? Então, acredito que a gente precisa pensar, também, e ouvir outros povos, povos originários do Brasil, da América latina, porque existem questões que, às vezes, a gente não está familiarizado e que são colocados para a gente, mas não contemplam esses povos. E, às vezes, de maneira até ignorante, a gente contribui para algo que não está sendo bom nem para a gente, nem para outras culturas e para outros povos. E o fato de pensar as verdades que a gente tanto ouve, principalmente, no meio virtual relação as Fake News. É uma questão, eu acho, muito fundamental para pensamento crítico de tudo isso que a gente vive. E abrir, também, o diálogo intercultural, porque, de fato, se uma maioria houvesse o diálogo intercultural, acredito que a gente não estaria vivendo essa conjuntura que a gente vive hoje. A gente não estaria com três milhões de hectares, quatro milhões e meio de hectares de Amazonia, três milhões hectares de pantanal destruidos por queimadas. Então, a gente precisa, de alguma maneira, pensar criticamente tudo isso que a gente está vivendo hoje e esse diálogo intercultural também é algo necessário. É algo importante para que a gente consiga entender que o que está posto, hegemonicamente, no momento não está sendo melhor para muitos povos e para muitos outros. Então, eu gostaria de abrir essa conversa para que a Nataly, o Bruno e a professora Cláudia também pudessem falar pouco dessas questões, e da experiência que a gente está tendo e teve ao construir esse curso. Eu sou a Nataly. Como o Robson falou, eu me formei história na Unicamp. E todo o processo de adaptação do curso foi muito importante, pessoalmente, para mim também, para refletir como a gente estava fazendo a produção de conhecimento. E aí que entra o diálogo intercultural, porque na universidade a gente deixa muitos tipos de conhecimento de lado e isso é resultado de processo histórico onde vários povos foram deixados de lado. E, como o Robson também falou, a modernidade traz esses avanços tecnológicos, mas ela também foi processo onde diferenças raciais, sociais e epistomológicas foram impostas. Então, a gente não pode deixar de lado esse quadro quando a gente fala da questão mesmo do avanço que a gente encontra no mundo digital tão colocado hoje no nosso dia a dia. Ele é resultado desses processos e ele não pode ser descolado do mundo real. A partir daí que a gente começou a pensar como a gente traria o conteúdo do curso pouco mais atrelado a nossa realidade. e colocar essa realidade nossa. Uma realidade onde a gente estava tentando... Onde a gente estava tentando não. Onde a gente quer incluir outros tipos de conhecimento, onde a gente começou a buscar intelectuais fora da academia. E, para mim, esse foi dos pontos principais durante o nosso processo; refletir mesmo como que a gente ia colocar essas pessoas sem que eles fossem outros. E, a partir daí, a gente começou a pensar na intersubjetividade de cada povo e foi isso. Eu acho. A gente também sempre visou que os estudantes do curso conseguissem entender que eles também são detentores de conhecimento; então, por isso, eles podem desenvolver o conhecimento e postar isso nas mídias. E, também, desenvolver pouco o pensamento crítico. A gente não quer que ninguém saia decorando o que é letramento, o que é mídia, mas que eles comecem a usar o mundo digital de uma forma crítica e ética. >> Meus cumprimentos, na verdade, Meu nome é Bruno. Sou estudante de filosofia e, como o Robson disse, sou professor de ética também. E, bom, o curso foi curso extremamente interessante do ponto de vista dos tempos modernos, mais especificamente os tempos contemporâneos. Nesse momento que a gente está passando na história, na história recente mesmo, nos últimos anos, esse curso, ele é inevitável para o nosso momento. Não tem como a gente passar por toda conjuntura que a gente está passando sem uma proposta de curso nesse nível. Acredito eu. Portanto, estamos muito felizes e muito satisfeitos com o resultado do trabalho como ele se deu. E, bom, a parte dos elogios acerca dessa adaptação que a gente fez. É importante ressaltar que esse é curso que não foi criado pela gente, ele foi adaptado da língua inglesa. E por ser adaptado, a gente passou, como a Nataly disse, o Robson também já mencionou anteriormente, nós tivemos o trabalho de tentar compreender como que o conteúdo do curso se encaixaria, digamos assim, na realidade, não só do Brasil, mas da língua portuguesa. É importante ressaltar isso. Então, de fato, a gente teve trabalho, fora traduzir o curso, a gente teve todo trabalho de pensar ele e como a gente conseguiria, de certo modo, não só discutir isso de ponto de vista das mídias geral, da super estrutura, como essas super estruturas são dadas, da rede e tudo mais. Mas, assim, tentar compreender de baixo, das pessoas comuns e das pessoas que, muitas vezes, nem são consideradas comuns, porque eles não têm direitos. Devido à exploração, devido a toda conjuntura estrutural que o Brasil vive, mas não só o Brasil, mas vários países também. Entender como o espaço digital e assim como as mídias, de modo geral, elas podem ser mais inclusivas e menos, digamos assim, que elas não excluam os outros. Não excluam aqueles que lhes parecem ser diferentes. Então, a gente, de certo modo, fez todo esse trabalho, esse trabalho de tentar compreender nosso tempo, de tentar compreender como que se deu todo o processo histórico brasileiro. É muito importante compreender as diferentes epistomologias, como a Naty disse. Pensando pouco na questão de como o Brasil tem essa diversidade. O Brasil tem esse contato cultural enorme que a gente vê expresso nas religiões como candomble, Umbanda. A gente vê, de certo modo, nos povos ribeirinhas. A gente vê nos, enfim, toda a tradição que veio da África. E a gente teve esse cuidado, justamente, como a Nataly disse, de não tratá-los como outros, não tratá-los como diferentes, mas sim pensar como é importante olhar essas tradições de ponto de vista epistemológico mesmo. Reconhecer conhecimento que é conhecimento que não é eurocêntrico, não vem da Europa, não vem das cadeiras de filosofia, científicas, das universidades, mas que compõem a identidade do que é o povo brasileiro de certo modo. Então, pensar isso foi inevitável para nós e a gente acredita que para lidar com as questões do nosso tempo, as questões relacionadas a 'Fake News', as questões que envolvem todos. Uma espécie de dominação que há perante usofruto e aplicação de ferramentas no mundo digital com espaço mesmo, assim, potencial até mesmo emancipatório das pessoas conseguirem expressar a sua vida comunitária, a sua identidade comunitária. Pensar o seu local, pensar as ações no seu local, como é que elas usam das mídias para isso, de uma forma geral. E se sentindo pouco mais emancipatório no sentido de expressar uma liberdade, de certo modo, que não é liberdade como a gente está acostumado a usar no sentido muito abstrato do termo. Não é só o direito de você se expressar, mas o direito de você ter a sua vida garantida minimamente. Porque a gente vê que tudo que está acontecendo hoje com as questões ambientais, com as questões dos desmatamentos, elas têm tornado, cada vez mais, a vida dos povos indígenas da amazônia, do pantanal, cada vez mais difícil e cada vez mais impossível de ser mantida. Então, a gente acredita que, resumindo, senão vamos extender pouco mais. A gente acredita que esse curso é de fundamental importância para a formação pedagógica dos jovens, dos adolescentes. E que eles compreendem de uma forma muito mais crítica, muito mais profunda, como todo esse processo, como que funciona, como as mídias funcionam, como as redes funcionam. Compreender, olhar para essas ferramentas de ponto de vista crítico e de ponto de vista mais local mesmo, de compreender a realidade regional, não só a realidade que é dada por meio de essa super estrutura toda. Então, acreditamos, todos nós aqui, que é importante curso para formar novas gerações e para a gente pensar Brasil de uma perspectiva até mesmo decolonial. Pensar o Brasil de uma forma mais independente da epistomologia eurocêntrica. [SEM_ÁUDIO] Olá. O meu nome é Cláudia, eu trabalho com essa equipe que vocês já ouviram aí. O Robson, a Nataly e o Bruno são presente que a Unicamp deu. Então, eu queria começar agradecendo ao SAI, ao sistema de bolsas da Unicamp, que permitiu que a gente trabalhasse juntos durante três anos fazendo a tradução desse curso do inglês para a língua portuguesa. E depois, mais ano, fazendo adaptação do material para as nossas questões do jeito que a gente conseguiu imaginar. O nosso ambiente de trabalho é o Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência Eu sou pesquisadora permanente lá e eu estou trabalhando com essa questão do digital e do multilinguismo, multiculturalismo no mundo digital desde 2004, desde o meu o pós doutorado. E daí, eu vi esse curso, vi que a Unesco tinha lançado esse curso e entrei contato com o professor e doutor, que foi quem fez o trabalho que permitiu a criação desse curso inglês, que é o professor Elton Grivo Ele tem doutorado excepcional na universidade de Barcelona, que ele vai fazer uma pesquisa com jovens. O doutorado dele está on-line, está disponível, a gente pode colocar o link embaixo no vídeo. E ele faz uma pesquisa com jovens e ele levanta questões que são fundamentais no processo de letramento midiático informacional. É trabalho muito bacana e ele conseguiu condições de criar esse curso dentro da própria Unesco. E eu acho nós estamos aqui para felicitá-lo por essa iniciativa, porque, realmente, é uma questão importantíssima. Principalmente relação a construção dessas bolhas nesse espaço digital. As pessoas com dificuldade de produzir diálogo entre si, on-line, que a gente está vendo muito esse comportamento. É complicado. Então, a proposta nossa aqui, eu acho, é fazer diálogo através desse espaço, desse território digital e a gente estar... Vocês estão vendo como é que está o vídeo, a gente está aqui tentando nesse 'fala não fala'. A gente está experimentando essa linguagem, experimentando modos que a gente pode imaginar, do lugar do trabalho intelectual de cada para fazer esse diálogo acontecer com os jovens e com todo mundo que esteja interessado propor uma cidadania mais proativa. Propor uma discussão sobre os temas que são mais contemporâneos de maneira inclusiva. Até onde a gente conseguiu levantar, tem uma discussão inicial sobre diálogo intercultural por causa dos preconceitos que a internet eurocêntrica e americana têm relação a figura das pessoas que são árabes. Então, parece me que começa a conversa com isso, a figura do árabe, a figura do muçulmano colocada de uma maneira muito caricata e negativa. E como é que a gente poderia fazer trabalho desses com os jovens para que a gente não tivesse, por exemplo, problemas de fundamentalismo religioso circulando na internet, que a gente não tivesse uma dificuldade de diálogo entre pessoas que têm crenças distintas. Então, eu acho que o que anima a nossa conversa é, justamente, essa possibilidade da gente falar entre diferentes e que a nossa conversa permita mesmo que as pessoas possam construir uma reflexão que nos... Como é que eu vou dizer isso? Que nos favoreça a todos. Como é que a gente pode pensar juntos, coletivamente, de uma maneira que isso nos fortaleça? Independentemente dos nossos vínculos e das nossas esferas de atuação. Mas como é que a gente pode pensar aprendizado que pode articular avanço da cidadania da perspectiva digital. Tipo de interlocução com o governo mais atualizada, mais refinada, mais crítica. E, também, uma utilização da mídia mais consciente relação as coisas que a gente tem necessidade mesmo de pautar. Porque me parece que a presença da tecnologia por si só não dá para nós maestria sobre esse instrumento. Então, curso desse, introdutório e a criação desse diálogo entre nós vai nos permitir aprender juntos, eu acredito. O que a gente pode fazer juntos no digital e que tipo de coisas a gente pode discutir. Se a gente discuti isso fóruns, se a gente discuti isso assim como a gente está fazendo, painél. Como é que a gente pode estruturar e trocar nesse ambiente. Eu acho que talvez essa seja, pelo menos no meu, enfim, minha vontade de poder construir diálogo a partir disso aí. Então, nós estamos pensando, também, uma relação do que é Brasil. Eu acho que na fala dos três dá para perceber claramente essa preocupação com o nosso país e com a nossa conjuntura. A gente está gravando hoje, nós estamos outubro de 2020. E depois vocês localizem aí o que estava acontecendo no país! Então, uma das coisas que eu acho que é fundamental é pensar que os intelectuais não estão só na universidade. Se existe uma vida acadêmica, se produz conhecimento de excelência, os pesquisadores, cientistas, professores, que trabalham dentro de instituições acadêmicas no Brasil, eles são excelentes, efetivamente. Mas também tem muita gente boa do lado de fora pensando questões que são fundamentais. E eu acredito que é nosso trabalho, no letramento midiático, achar essas pessoas; e trocar idéia com elas e abrir esse diálogo. Tentar permitir que o ambiente digital nos auxilie nesse diálogo com a reflexão que está acontecendo, também, fora das universidades. Então, nesse sentido, a gente está alinhado com a preocupação do professor Michel Debran, que é dos fundadores do CLER, onde a gente fez esse trabalho, que é pensar o que a gente pode constituir e compreender que seja a cultura brasileira. E para pensar isso, eu acho que não tem uma resposta. Eu acho que é uma pergunta que vai nos guiar pela vida toda. Não é algo que a gente deve responder, é algo que a gente deve continuar perguntando. Então, eu quero agradecer muito ao Robson, a Nataly e o Bruno, pela oportunidade de convivência que eles deram durante esses anos todos. Pela disposição de manter o vínculo de reflexão mesmo depois de estarem formados. E eu espero [RISOS] que a gente continue trabalhando, porque eu estou, absolutamente, feliz e esperançosa com esse trabalho. De verdade, participar desse curso foi aprender, foi aprender como entender a ciência, foi aprender como pesquisar, foi aprender a reconhecer que existem intelectuais fora do meio hegemônico. Foi aprender com outros povos e com outros conhecimentos. E se você for lá no curso, se você que está aí assistindo a gente estiver curiosa, ou curioso, e for lá no nosso curso para saber do que a gente está falando, você vai entender melhor do que a gente está falando. Então, eu estou muito agradecido, também, por essa oportunidade e espero que você que esteja aí ouvindo a gente e estiver curiosa, ou curioso, vá lá dar uma olhada nesse curso. E caso você tenha interesse também de conversar com a gente, a gente vai estar a disposição.